Jornal Estado de Minas

França vai intensificar ações contra islã radical após decapitação de professor

O governo francês anunciou nesta terça-feira que irá intensificar as ações contra o islã radical, após a decapitação de um professor que exibiu charges de Maomé em sala de aula, enquanto a investigação do crime se concentra em determinar a relação entre o assassino e o pai de uma aluna.





"Não se trata de fazer novas declarações (...) são atos o que os nossos cidadãos esperam, e eles serão intensificados", afirmou o presidente Emmanuel Macron, na prefeitura de Bobigny.

Autoridades francesas iniciaram ontem uma ofensiva policial contra movimentos islamitas e está previsto para amanhã o fechamento de uma mesquita localizada nos arredores de Paris, considerada um núcleo do "movimento islamista radical".

Macron também anunciou a dissolução do coletivo pró-Hamas Cheikh Yassine, "diretamente envolvido" no atentado e cujo fundador, Abdelhakim Sefrioui, é um dos vários detidos pelo crime contra o professor Samuel Paty, ocorrido na última sexta-feira em Conflans-Sainte-Honorine, a noroeste de Paris.

Sefrioui havia acompanhado no começo do mês o pai de uma aluna do instituto onde ocorreu o crime para pedir a demissão do professor, que dá aulas de história e geografia e exibiu as charges de Maomé enquanto ensinava sobre liberdade de expressão.

O pai da aluna, que convocou pelo Facebook uma mobilização contra o professor e que também foi preso, havia sido contactado pelo autor do crime antes do assassinato, informou uma fonte ligada à investigação. O conteúdo da conversa é desconhecido.





A polícia francesa libertou hoje seis das 16 pessoas detidas pelo crime, cometido por Abdullakh Anzorov, 18, morto pela polícia após o ataque. Uma fonte judicial indicou esta noite à AFP que os responsáveis pela investigação decidiram libertar os quatro membros do círculo familiar do assassino, sua companheira e outro homem, que já havia sido condenado por terrorismo.

- Fechamento de mesquita -

Após o assassinato do professor, o governo francês prometeu "uma guerra contra os inimigos da república" e anunciou a dissolução de associações que apoiam o islamismo radical. Cerca de 50 delas estão na mira das autoridades.

Considerada por autoridades um refúgio do "movimento islamista radical", onde se propagam mensagens "suscetíveis de terem levado" ao assassinato do professor, a mesquita de Pantin (nordeste de Paris) permanecerá fechada por seis meses.

Segundo o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, o professor foi vítima de uma fatwa, decisão religiosa proferida pelo pai de uma estudante e por Abdelhakim Sefrioui.





A vítima foi "apontada" para o assassino "por um, ou vários, alunos da escola, a priori em troca de uma quantia de dinheiro", relatou uma fonte ligada à investigação. As prisões provisórias dos últimos dias buscam determinar as possíveis responsabilidades dos estudantes neste caso, segundo a mesma fonte.

- Homenagens -

O autor do crime, que publicou no Twitter uma foto do corpo decapitado pouco antes de ser morto pela polícia, já havia publicado imagens de decapitações. Sua conta foi alvo de atenção do governo, há alguns meses, mas não foi apagada.

A vice-ministra francesa da Cidadania, Marlène Schiappa, reuniu-se hoje com representantes do Facebook, Twitter, Youtube, Snapchat e Tiktok e lhes propôs uma cooperação mais estreita entre estas plataformas e a polícia francesa para combater o "islamismo cibernético". O premier Jean Castex também propôs a criação de um novo crime, "por colocar em risco alguém a partir da publicação de seus dados pessoais" na internet.

As homenagens ao professor continuaram hoje, com um minuto de silêncio guardado pelos deputados franceses na Assembleia Nacional, em Paris. O presidente francês participará amanhã de uma homenagem a Samuel Paty na Universidade de Sorbonne, também na capital.