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Estado de Minas

E se a China votar em Trump?


20/10/2020 09:55

Apesar de o primeiro mandato de Donald Trump ter sido uma calamidade para a China, Pequim pode ver com bons olhos a reeleição do presidente americano, apostando no declínio irreversível de seu grande rival estratégico.

Oficialmente, Pequim não tem preferências entre Donald Trump e Joe Biden. Alguns analistas acreditam, no entanto, em uma vitória do republicano e no decorrente enfraquecimento dos EUA e do Ocidente, um cenário que poderia acelerar o ascensão da China ao nível de primeira potência mundial.

Os chineses "esperam que você seja reeleito, porque você faz dos Estados Unidos um país excêntrico e, por fim, odiado no mundo inteiro", tuitou em maio o editor-chefe do jornal nacionalista "Global Times", Hu Xijin, referindo-se ao presidente americano.

"Você reforça a unidade da China", completou.

As relações bilaterais se esfriaram enormemente no governo Trump. Em um ambiente de "guerra fria", Washington fechou, no fim de julho, um consulado da China em seu território, e Pequim fez o mesmo alguns dias depois.

- Enfraquecer a Otan -

O vice-ministro chinês das Relações Exteriores, Qin Gang, afirma: "Não nos importamos com quem está na Casa Branca. O que queremos é uma relação calma e melhor com os Estados Unidos".

Ainda assim, ele lembrou aos repórteres, na quinta-feira passada, que "as relações China-EUA também eram problemáticas com os democratas em muitos temas".

O presidente Trump, um republicano, teve a China no centro das atenções durante sua campanha e causou grande mal-estar entre seus dirigentes ao falar do "vírus chinês" para se referir ao novo coronavírus.

No plano diplomático, Trump é "incontrolável e incompreensível" para Pequim, observa o especialista chinês Philippe Le Corre, da Harvard Kennedy School, nos Estados Unidos.

Mas "o interesse da reeleição de Trump está na continuação quase automática de sua política 'America First', que, em parte, isola Washington de seus aliados tradicionais", explicou ele à AFP.

"Evidentemente, é coerente pensar que as elites chinesas se alegrem com o enfraquecimento dos Estados Unidos, já que é seu grande rival", completou.

Além disso - acrescenta -, eles esfregam as mãos diante das divisões ocidentais.

"Um dos objetivos estratégicos de Pequim é enfraquecer a Aliança Atlântica [Otan], que embarcou em uma jornada à deriva sob a administração Trump", disse Theresa Fallon, diretora do Centro de Estudos Rússia-Europa-Ásia (CREAS), em Bruxelas.

- Contrastes -

Desde a chegada de Donald Trump ao poder, em janeiro de 2017, o presidente chinês, Xi Jinping, tem procurado projetar a imagem de um líder responsável, defendendo o livre-comércio, em Davos, para a aprovação dos meios empresariais, irritados com o protecionismo de Washington.

Mais recentemente, Xi ganhou elogios internacionais, ao anunciar que seu país, o mais poluente do planeta, começaria a reduzir suas emissões de CO2 até 2030, ao contrário da postura dos Estados Unidos, que denunciaram o Acordo de Paris sobre o Clima.

E, enquanto Donald Trump anunciou a retirada dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS), Xi Jinping prometeu que fará de uma eventual vacina chinesa contra a covid-19 "um bem público global".

Mas, no final, "a relação pode melhorar, se os Estados Unidos controlarem rapidamente a pandemia, e se a China comprar mais produtos americanos", como prometeu fazer, no início do ano, analisa o cientista político Zhu Zhiqun, da Universidade Bucknell, nos Estados Unidos.

Dessa perspectiva, "não é inconcebível que Trump e Xi reacendam sua amizade", apontou.

- Biden e Direitos Humanos -

Ainda mais considerando que o regime comunista não tem muito a esperar, se Joe Biden chegar à Casa Branca.

"Biden herdará as tarifas, e duvido que ele vá retirá-las unilateralmente", disse Bonnie Glaser, do Center for Strategic and International Studies (CSIS), de Washington.

"Provavelmente, Pequim terá de ceder a outras exigências dos EUA, se quiser que essas sobretaxas sejam suspensas", afirmou o especialista.

Na frente tecnológica, "independentemente do vencedor, os Estados Unidos não recuarão em sua decisão de excluir os equipamentos da Huawei de suas redes de internet móvel", disse Glaser à AFP.

Washington acusa a gigante chinesa das telecomunicações de potencial espionagem.

Uma pauta que talvez possa ser ainda mais desconfortável para Pequim é o fato de os democratas tenderem a ser mais intransigentes do que os republicanos no que diz respeito aos direitos humanos.

O ex-vice-presidente de Barack Obama pode aumentar a pressão, diante das últimas medidas e atuações da China em Hong Kong.

"Biden seria uma má notícia para Pequim, porque favoreceria, muito rapidamente, uma coalizão de países que estão na mesma sintonia, no que diz respeito à China", completou Philippe Le Corre.


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