Jornal Estado de Minas

Da prisão à presidência em 12 dias, a história do novo líder do Quirguistão

Populista com relações obscuras e uma passagem pela prisão: fatos que ajudam a entender quem é o novo presidente do Quirguistão, que assumiu o poder após mais de dez dias de crise política e manifestações violentas.

Em 4 de outubro de 2020, Sadyr Japarov cumpria uma pena de 11 anos e meio de prisão por sequestro. No dia 16, ele se tornou presidente interino da ex-república soviética na Ásia central, impondo seu nome, em grande parte, às multidões ameaçadoras que ocuparam ruas e edifícios públicos de Bishkek, a capital do país.





No período de 12 dias, aconteceram as eleições legislativas, desacreditadas e anuladas pela compra de votos em larga escala, vieram distúrbios que deixaram mais de 1.000 feridos e a renúncia forçada do presidente Sooronbai Jeenbekov.

Em menos de duas semanas, Japarov, que passou os últimos três anos atrás das grades, tomou o poder no país.

Seus partidários o retiraram da prisão, ele foi absolvido pela Justiça em circunstâncias confusas e, depois, foi nomeado primeiro-ministro em uma reunião secreta de deputados em um hotel.

Enfraquecido pelas acusações de fraude, Jeenbekov rejeitou a designação, mas Japarov, 51 anos, conseguiu impor seu nome com o apoio dos manifestantes e deputados leais.

- Homem do povo, ou mafioso? -

Após a renúncia do chefe de Estado, o presidente do Parlamento se recusou a assumir o governo e deixou o poder ao ex-condenado.

Para seus partidários, Japarov é "um homem do povo" que luta contra uma elite política corrupta. Para seus críticos, ele é um mafioso vinculado ao crime organizado.





Omurbek Suvanaliev, ex-ministro do Interior, denunciou os mafiosos que "ensinaram (os políticos) na prisão a viver de acordo com as regras dos criminosos".

Japarov considera as suspeitas uma campanha para "prejudicar" seu nome.

Em 2005, o executivo de uma pequena empresa de petróleo da região de Issyk Kul (norte do país) se tornou deputado após uma revolução que levou Kurmanbek Bakiev à Oresidência.

Este último virou o padrinho político de Japarov, que rapidamente foi nomeado para o comando da Agência Nacional Anticorrupção. No cargo, ele se recusou a investigar as acusações de peculato contra a família de Bakiev, que foi expulso do poder e do país após uma violenta revolta em 2010.

Japarov virou o líder de um partido opositor.

Também ganhou fama por organizar manifestações na província de Issyk Kul contra a operadora canadense da maior mina de ouro do país, a Kumtor, acusada de corrupção e de violar as normas ambientais.

Em 2013, durante um protesto, o governador da província foi tomado como refém e teve o corpo molhado com gasolina.

As autoridades acusaram Japarov, abriram uma investigação criminal e ele fugiu do país.

Em 2017, ao retornar ao país, ele foi detido e condenado a 11 anos e meio de prisão pelo sequestro do governador.