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Estado de Minas

Na Líbia, a população está dividida entre medo e indiferença diante do novo coronavírus


27/09/2020 13:25

Alto e musculoso, Haytham passa horas na entrada da loja para afastar os clientes sem máscara, oferecendo-lhes a opção de voltarem usando máscaras de proteção ou comprarem uma na loja.

"Fazemos o melhor que podemos, correndo o risco de sermos insultados por clientes insatisfeitos que não entendem o que é melhor para eles e para nós", conta ele, dando de ombros.

Trabalhar nessa vigilância 24 horas por dia é uma tarefa ingrata para esse funcionário de um grande supermercado no oeste da capital líbia, Trípoli, um dos maiores locais de contaminação do país pela covid-19.

A gerência da loja não economiza: álcool gel livre para se usar, carpete embebido em desinfetante e até mesmo na entrada está um portão para se desinfetar, que se ativa automaticamente à medida que os clientes passam.

É difícil saber a extensão da pandemia na Líbia, mergulhada no caos desde a queda do regime de Muammar Khadafi em 2011 e que por várias semanas viu um rápido aumento nos casos da covid-19, o que agrava a situação em um país no que os serviços já são muito precários.

Nessas condições, o confinamento não faz sentido. Sem água e eletricidade, é impossível convencer as pessoas a ficarem em casa, ressalta Ibrahim El Deghayes, membro do Centro Nacional de Combate às Doenças (CDC), que nota a indiferença de uma parte da população em relação à pandemia.

De acordo com um último balanço do CDC, mais de 31.000 casos tinham sido confirmados, dos quais mais de 13.000 estão ativos, e com um registro de 491 mortos para uma população de menos de sete milhões de habitantes.

"Cerca de 80% dos casos detectados são assintomáticos e isso é uma sorte para nós, pois eles só precisam ficar confinados até se curarem completamente", explica El Deghayes.

Para o infectologista, "os testes prioritários são voltados para pessoas em situação de risco, como idosos e portadores de doenças crônicas".

O CDC está realizando campanhas de informação em Trípoli, onde realiza pesquisas, com foco nas "atividades mais expostas, como mercearias, cafés e padarias", Mohamad Al Jazui, da direção de comunicação da CDC.

- Inimigo invisível -

Muitos moradores de Trípoli consideram essas medidas insuficientes, pois têm que esperar vários dias pelos resultados dos testes, e isso aumenta o risco de infectar seus entes queridos.

Na capital, onde o uso da máscara é obrigatório em espaços públicos e em locais fechados, os infratores se arriscam a altas multas, enquanto os comerciantes lutam para fazer os clientes cumprirem as medidas de segurança.

Maysun Trabelsi e suas irmãs vivem em Tajura (subúrbio oriental de Trípoli) com seus avós, que fugiram do seu bairro de Ain Zara por causa dos combates nesta área, situada a sudeste de Trípoli.

A jovem, vendedora de uma loja de roupas, teme por seus avós "idosos e frágeis". Ela está "apavorada" com o risco que assume ao conviver com os clientes, alguns dos quais se recusam a usar uma máscara "como solicita a gerência da loja".

E se o chamado de atenção for feito diretamente a eles, "não recebem bem", relata.

Com o passar dos meses, a relutância dos líbios em mudar seus hábitos foi se consolidando.

Existem também os céticos irredutíveis, como Salem. Sentado na entrada de sua loja de celulares em Gargarech, ele parece orgulhoso de nunca ter "usado uma máscara" desde o início da pandemia, porque "não acredita nesta conspiração mundial".


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