Jornal Estado de Minas

Ex-CEO da Volkswagen será julgado por escândalo do diesel

A justiça alemã decidiu nesta quarta-feira (9) levar o ex-CEO da Volkswagen Martin Winterkorn aos tribunais, pela acusação de fraude no escândalo dos motores a diesel manipulados da montadora.

O tribunal de Brunswick, responsável pelo caso, considerou, "após uma análise exaustiva da acusação" por parte do Ministério Público, que há "suspeitas suficientes de fraude em grupo organizado" contra Winterkorn, que foi novamente levado à justiça ao lado de outros quatro diretores do grupo.





Os magistrados, em sua resolução, reforçaram inesperadamente ainda mais a acusação do MP, que não havia considerado a denúncia de fraude organizada nos postos mais elevados da gigante do setor automotivo mundial.

Eles apontaram motivos comprovados para suspeitar que os "compradores de alguns tipos de veículos do grupo Volkswagen foram enganados" pela instalação nos motores de um 'software' que apresenta níveis de emissão de óxidos de nitrogênio inferiores aos reais, afirma um comunicado.

O julgamento de Winterkorn e dos outros acusados no escândalo que abalou o setor de automóveis da Alemanha, que ainda não teve a data fixada, será um elemento chave na saga legal sobre os motores a diesel manipulados da Volkswagen.

No aspecto financeiro, o grupo já solucionou os maiores riscos vinculados a julgamentos.

Além de Martin Winterkorn, o ex-CEO da Audi Rupert Stadler também será levado a julgamento.

O caso surgiu em setembro de 2015, quando a Volkswagen admitiu ter manipulado 11 milhões de veículos, equipando-os com dispositivos que os faziam parecer menos poluentes em testes de laboratório do que realmente eram - resultando na renúncia de Winterkorn, à frente da gigante automotiva desde 2007.





Uma das principais questões ainda em aberto: quem sabia o quê e quando dessa gigantesca fraude?

Martin Winterkorn, um engenheiro de profissão conhecido por seu perfeccionismo, orgulhava-se de conhecer "cada detalhe" de seus modelos. Mas a Volkswagen sempre sustentou que apenas um punhado de engenheiros organizou a trapaça sem o conhecimento de seus superiores.

O grupo apenas indicou em 2016 que o ex-patrão havia sido avisado por um "memorando" de maio de 2014 sobre irregularidades nos níveis de emissões nos Estados Unidos.

O atual CEO do grupo, Herbert Diess, e o presidente do conselho fiscal, Hans Dieter Pötsch, também foram levados à Justiça em setembro de 2019 por manipulação dos mercados financeiros, mas conseguiram evitar um julgamento por meio de um acordo.

Em nota enviada à AFP, a Volkswagen observa que a decisão diz respeito a "pessoas isoladas" e garante que é "do interesse do grupo, dos funcionários e dos acionistas esclarecer sobre os fatos que levaram" ao dieselgate.

A conta total do 'dieselgate' da Volkswagen supera até o momento 30 bilhões de euros (35,3 bilhões de dólares) - uma parte importante foi paga nos Estados Unidos.

Na Alemanha, a empresa concordou em pagar cerca de 750 milhões de euros para indenizar 240 mil clientes e, depois de uma decisão desfavorável da principal corte do país, se apressa em propor acordos amigáveis para resolver grande parte das 60 mil reclamações restantes.

A Volksawgen e as marcas do grupo também pagaram três multas, totalizando 2,3 bilhões de euros, para afastar as investigações.

Na área cível, o último grande processo continua sendo o dos investidores que pedem uma indenização pela queda do preço das ações após as revelações, ainda em andamento.