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Estado de Minas

Passados 100 dias da morte de George Floyd, Portland mantém protestos


04/09/2020 18:43

"Se quisermos mudar o sistema, rejeitar o racismo sistêmico, temos que continuar nas ruas", diz um jovem manifestante em Portland, no noroeste dos Estados Unidos.

Suas palavras resumem a posição de muitos nesta cidade, que mantém seus protestos todas as noites, 100 dias após a morte do afro-americano George Floyd pelas mãos de um policial branco.

E, para S (como este jovem se identifica, usando a inicial de seu nome), o movimento deve continuar "pelo menos até as eleições" entre o presidente republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden, em 3 de novembro próximo.

"Trump fez um trabalho péssimo, o país nunca esteve tão dividido", assegura S.

Os protestos contra o racismo e contra a brutalidade policial na maior cidade de Oregon são menos multitudinários agora, em comparação com as concentrações em massa dos primeiros dias, mas todos os dias, mesmo no meio da semana, eles continuam a reunir pessoas, principalmente os jovens.

"O fato de terem se mantido por tanto tempo desde maio, consistentemente todas as noites, mostra que é provável que não terminem tão cedo", explica à AFP Joe Lowndes, pesquisador na Universidad de Oregon. "Há consistência em termos de militância e convocatória", aponta.

- "Não queremos distúrbios" -

O presidente republicano cita com frequência as manifestações em Portland, que às vezes terminam em confrontos com a polícia, para agitar o fantasma de um país à mercê de "bandidos" e "terroristas" de esquerda, se Biden for eleito.

"Não queremos queimar coisas, não queremos tumultos. Estamos tentando passar nossa mensagem", disse à AFP Reese Monson, de 30 anos, um dos líderes do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras importam, em tradução livre) em Portland, antes de uma manifestação em frente ao quartel da polícia.

Algumas dezenas de jovens com capacetes e máscaras, muitos deles ativistas antifascistas vestidos de preto, insultam e provocam os oficiais, que respondem apenas lançando potentes holofotes sobre eles.

A situação vai até aí, ao contrário de muitas outras, que terminaram sob a fumaça do gás lacrimogêneo.

Para Lowndes, esse discurso do presidente "pode ajudar sua campanha", principalmente com sua base, mas "não está claro se o movimento vai lhe dar mais votos". "Também dependerá do que Biden fizer".

- Organizadas, mas sem estrutura -

Presente "desde o primeiro dia, todos os dias", Monson reconhece e lamenta que, "às vezes, os indivíduos dentro, ou fora", do grupo "usam o Black Lives Matter para provocar violência".

Embora o núcleo dos manifestantes tenha sido muito bem organizado desde o nascimento do movimento no final de maio está longe de ser verdadeiramente estruturado, ou homogêneo.

Nele, há os antirracistas e os ativistas dos direitos LGBTQ, que convivem com os grupos de esquerda radical com escudos e prontos para o combate, assim como estudantes de shorts e sandálias, curiosos e um ou outro que parece estar fora do lugar, de aparência suspeita.

Um exemplo de problemas de coordenação ocorre quando o movimento organiza uma votação em um parque em East Portland, onde cerca de 150 pessoas se reuniram. Alguns querem marchar até a delegacia, outros querem ficar no bairro e protestar lá.

Conclusão, 45 minutos depois: "não conseguimos chegar a um consenso".

- Meses voláteis -

O que esses manifestantes têm em comum é o medo de grupos de extrema direita. Seus membros, que defendem a supremacia branca e às vezes estão armados, estão bem estabelecidos na região e ganharam força desde a campanha de Trump de 2016.

Um membro de uma dessas organizações, Patriot Prayer, identificado como Aaron Danielson, de 39 anos, acabou sendo morto, a tiros, durante um confronto no sábado em Portland. O episódio ainda está sob investigação.

Nesse dia, Trump denunciou a morte de um "homem piedoso", "executado na rua".

Um homem de 48 anos, ativista de extrema esquerda e suspeito do assassinato, foi morto pela polícia na noite de quinta-feira no vizinho estado de Washington. Uma investigação está em andamento.

Temendo por sua segurança, os ativistas relutam em serem filmados e insistem em se comunicar por meio de mensagens criptografadas. Um manifestante disse à AFP que preferia não sair às ruas, por não ter um colete à prova de balas.

"O país provavelmente não está tão dividido desde a década de 1850", com "um presidente em exercício condenando um lado e encorajando o outro. É algo novo e extraordinário", diz Lowndes.

"Fala-se de guerra civil e é algo que muitas pessoas têm em mente", continua. "Os próximos meses serão bastante voláteis."


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