Jornal Estado de Minas

As discotecas da discórdia na Itália

"Coloquem as máscaras": o DJ repete constantemente com o microfone na mão, mas o público não liga. Na "Kiki", uma boate em Ostia, um popular balneário na região de Roma, o coronavírus parece distante, mas está bem presente.

Os slogans são conhecidos: máscara obrigatória, dançar sozinho e a mais de um metro de distância da próxima pessoa.





Os 200 ou 300 clientes da "Kiki" dançam ao ritmo da música eletrônica. Muitos sem máscara, flertam, sorriem ou seguram as bebidas. Corre o boato de que a polícia pode aparecer a qualquer momento. Os garçons e o DJ conseguem, depois de várias tentativas, convencer todos a usar a máscara.

Enquanto a ameaça de uma segunda onda é repetida em vários países europeus, e depois de a Espanha fechar suas discotecas, uma Itália relativamente segura no momento tenta, a sua maneira, controlar novos focos no verão em pleno "Ferragosto", o badalado final de semana de 15 de agosto.

O governo teme que a vida noturna, geralmente lotada no "Ferragosto", contribua para o aumento das infecções, como na Espanha.

Na Itália, a questão é politicamente delicada, já que fechar boates no meio das férias de verão seria muito impopular, em um país que está se recuperando lentamente de uma pandemia letal (35.225 mortos) e do confinamento dramático.





As discotecas indoor não foram autorizadas a abrir, para tristeza de um setor que emprega 50 mil pessoas em suas 3.000 casas noturnas, segundo o sindicato dos gerentes de casas noturnas.

Porém, discotecas ao ar livre e cafés-clubes em terraços podem funcionar, caso os prefeitos e governos das regiões afetadas permitam.

A imprensa italiana criticou o sistema.

"Os contágios aumentam mas o país dança", afirmou o Corriere Della Sera, um dos principais jornais italianos, particularmente crítico com a região da Sardenha, onde os bares e discotecas se tornaram "máquinas contagiosas alegres"

Para o órgão científico consultado pelo governo sobre o vírus, as discotecas ao ar livre "deveriam ser fechadas", já que as concentrações de pessoas suadas são potencialmente "devastadoras" e "impossíveis de controlar".

Em boates, "você se adapta como pode", diz Gianluca Skiki, um organizador de eventos em Fregene, na costa romana.

Sob o céu estrelado, as mesas dos jovens italianos muitas vezes acabam cantando os clássicos - "Viva l'amore!" - entoados por um cantor local, que mais tarde é substituído por um DJ.

Longe das festas despreocupadas e selvagens de anos passados, este "verão é estranho", afirma a imprensa local. "Estranho Ferragosto", repete Gianluca, "espero que seja o último deste tipo".