Jornal Estado de Minas

Dois ministros renunciam no Líbano, novos confrontos em Beirute

Dois ministros renunciaram neste domingo (9) no Líbano, onde foram registrados confrontos pelo segundo dia consecutivo entre as forças de segurança e manifestantes enfurecidos contra a classe política, acusada de negligência na explosão que devastou o porto de Beirute.





A primeira renúncia desde a explosão de terça-feira que deixou pelo menos 158 mortos, mais de 6.000 feridos e 300.000 pessoas desabrigadas fio da ministra da Informação, Manal Abdel Samad.

"Após a enorme catástrofe de Beirute, apresento minha demissão do governo", declarou a ministra. "Peço desculpas aos libaneses, não soubemos responder às expectativas", explicou.

Horas mais tarde, quem também entregou o cargo foi o ministro libanês do Meio Ambiente e Desenvolvimento Administrativo, Damianos Kattar.

"Diante desta enorme catástrofe e um regime estéril que falhou em diversas oportunidades, decidi renunciar do governo", anunciou Kattar em comunicado.

A imprensa libanesa também especulava com outras possíveis demissões no Executivo.

O primeiro-ministro Hasan Diab se reuniu com vários ministros para avaliar a situação e contemplar sua possível renúncia, segundo a imprensa local.

Neste domingo, na emblemática Praça dos Mártires, centenas de manifestantes foram às ruas exibindo bandeira do Líbano e cantando músicas patrióticas.





Mais tarde, em uma avenida que leva ao Parlamento, manifestantes lançaram pedras e fogos de artifícios contra a polícia, que revidou com bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão, segundo um correspondente da AFP no local.

Os manifestantes responderam à truculência policial gritante "Revolução, revolução!". Alguns escalaram as imponentes barricadas instaladas pelas forças de ordem para proteger a rua do Parlamento.

No sábado, os manifestantes invadiram brevemente os ministérios das Relações Exteriores, da Economia e da Energia, bem como a Associação de Bancos, sinalizando um endurecimento da contestação.

- Ajuda internacional -

A ajuda internacional continua chegando ao Líbano. A França montou uma "ponte aérea e marítima" para entregar mais de 18 toneladas de ajuda médica e quase 700 toneladas de ajuda alimentar.

"Devemos atuar rápido e com eficiência" para que a ajuda "chegue diretamente" ao povo libanês, garantiu neste domingo o presidente da França, Emmanuel Macron, no início da videoconferência internacional de doadores para o país árabe.

"Durante esses dias, meus pensamentos voltam com frequência ao Líbano", revelou o Papa Francisco, após a tradicional Oração do Angelus.





"A catástrofe de terça-feira nos urge a todos, começando pelos próprios libaneses, a trabalhar juntos pelo bem comum", completou.

A ajuda emergencial coletada neste domingo na videoconferência organizada por França e ONU alcançou pouco mais de 250 milhões de euros, 30 milhões oriundos de Paris, anunciou o Eliseu.

- Pouca esperança de sobreviventes -

A tragédia foi causada na terça-feira por 2.750 toneladas de nitrato de amônio armazenadas por seis anos no porto de Beirute "sem medidas de precaução", segundo admitiu o próprio primeiro-ministro Hassan Diab.

A deflagração provocou uma cratera de 43 metros de profundidade, de acordo com uma fonte de segurança.

A esperança de encontrar sobreviventes no porto de Beirute praticamente desapareceu neste domingo.

Após vários dias de "operações de busca e resgate, podemos dizer que finalizamos a primeira etapa, na qual existe a possibilidade de encontrar pessoas vivas", informou em coletiva de imprensa o coronel Roger Juri, chefe do regimento de engenheiros militares.





- "Preparem as forcas" -

Esta tragédia, que ilustra a incapacidade do poder, deu fôlego novo à contestação sem precedentes lançada no final de 2019.

"Preparem as forcas, porque nossa raiva não será extinta da noite para o dia", diziam postagens online.

Desemprego, serviços públicos decadentes, condições de vida difíceis: uma revolta estourou em 17 de outubro de 2019 para exigir a saída de toda a classe política, quase inalterada por décadas. Mas a crise econômica se agravou e um novo governo instituído foi contestado. E o movimento perdeu força, especialmente com o novo coronavírus.

No sábado, milhares de libaneses se reuniram na Praça dos Mártires, brandindo vassouras e pás, em um momento em que a própria população realiza as operações de limpeza, sem que o governo tenha tomado medidas.

No sábado, o primeiro-ministro Diab anunciou que proporá eleições legislativas antecipadas e disse que permaneceria no poder "por dois meses", enquanto as forças políticas se entendem em um país onde o poderoso movimento armado pró-iraniano Hezbollah domina a vida política.