Jornal Estado de Minas

Crise

Comissária de voo mineira acusa Emirates de retaliação com demissões

Assim como todo o setor de aviação, a Emirates, principal companhia aérea dos Emirados Árabes, não sai ilesa dos impactos da crise provocada pelo novo coronavírus. A empresa indicou que demitirá até 15% de sua força de trabalho. Porém, comissária de voo brasileira desligada recentemente afirma que o total deve ser maior e sustentou que as decisões sobre quais funcionários despedir seriam arbitrárias e motivadas por retaliação. Segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), o setor deve ter receitas 50% menores do que as de 2019, uma queda de R$ 84 bilhões.





Mineira, a agente de bordo preferiu não se identificar. Segundo ela, a Emirates, que tinha 60 mil funcionários, já demitiu 6 mil dos quase 20 mil trabalhadores de voo e 1.200 dos 4.300 pilotos. "Estamos sendo mandados embora sem a menor transparência, com critérios duvidosos. Estão usando a desculpa do coronavírus para demitir de forma arbitrária", acusa a comissária. Ela diz que acionará a Justiça do Trabalho.
 
Na visão dela, haveria retaliações, como encerramento de contratos de comissárias que estavam de licença maternidade, assim como de trabalhadores "retidos" em seus países por causa das restrições de viagens.

Procurada, a Emirates alegou que recorreu às dispensas como forma de se "adaptar a esse período de transição". Afirmou ter tratado os casos "com justiça e respeito". A empresa diz que tem se esforçado para evitar os cortes. "A pandemia impactou muitas indústrias. Infelizmente, precisamos nos despedir de algumas das pessoas maravilhosas que trabalharam conosco".





De acordo com a mineira, porém, a empresa teria informado os funcionários sobre as demissões por meio de mensagens de e-mail em que eram convocados a reuniões para o dia seguinte. "Depois da primeira vez, todo dia houve novos e-mails. Todos ficaram estressados e com muito medo. Cancelaram minha primeira reunião e depois de vários dias de tortura recebi de novo a mensagem", conta.

Na ocasião, ela questionou se não seria quebra de contrato, já que tinha um ano e meio para cumprir. Os superiores negaram. Ela cita outros casos que considera injustos. "Um piloto excelente, premiado três vezes, foi mandado embora porque no ano passado passou por uma cirurgia e ficou três meses sem trabalhar", acusa.
 
Segundo a comissária, a companhia deveria ter oferecido licença não remunerada ou demissão voluntária. "Eles reduziram os salários desde março, falando que era para evitar demissões, mas agora demitiram da mesma forma", afirma.





Seguro 

Para atrair passageiros, a Emirates ofereceu seguro gratuito para quem contraísse a doença provocada pelo novo coronavírus durante ou depois do voo. A oferta, válida por 31 dias após o primeiro voo do cliente, cobre despesas médicas, período de quarentena em hotéis e até gastos com funeral. 
 
Como a companhia investe em medidas como essa,a crise não justificaria o tratamento dispensado aos funcionários, na visão da comissária de voo.
 
“A gente entende que a empresa e a aviação estão sofrendo, mas a maneira que estão fazendo é absurda. Enquanto isso eles estão oferecendo seguros de COVID-19 aos clientes, e lançar patrocínio para time de futebol. Dinheiro pelo visto eles têm”, argumenta. 

*Estagiário sob a supervisão do subeditor Eduardo Murta