Os Estados Unidos ordenaram o fechamento do consulado chinês em Houston, acusado de ser o "coração" de uma rede de espionagem, uma decisão tomada em meio à crescente tensão entre as duas potenciais mundiais.
A medida foi anunciada nesta quarta-feira (22) por Pequim, que a considerou uma "provocação" e ameaçou revidar, um presságio para uma deterioração ainda maior das relações entre os dois países, envolvidos em embates políticos sobre a lei de segurança em Hong Kong, as acusações de espionagem e a situação da minoria uigur no noroeste da China, entre outras diferenças.
O consulado chinês foi fechado "para proteger a propriedade intelectual americana e as informações privadas dos americanos", explicou Washington, sem dar maiores detalhes.
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Trump anuncia reforço de tropas federais para combater o crime em ChicagoItália detém navio humanitário 'Ocean Viking' por 'irregularidades técnicas'Achados os últimos corpos de acidente com helicóptero na ColômbiaOs Estados Unidos tomaram esta decisão devido ao "persistente roubo de tecnologia americana por representantes e agentes do governo chinês", declarou o vice-secretário de Estado, Stephen Biegun.
Ele também mencionou "desvios no sistema de intercâmbios universitários" e um comportamento de funcionários do consulado chinês em Houston considerado "incompatível com as práticas diplomáticas normais".
- "Queimavam documentos" -
Em viagem à Dinamarca, o secretário de Estado, Mike Pompeo, não se aprofundou nessas justificativas, mas denunciou, novamente, o "roubo de propriedade intelectual por parte do Partido Comunista chinês", tanto nos Estados Unidos quanto na Europa.
Pompeo mencionou o caso dos hackers que foram denunciados na véspera nos Estados Unidos por tentar roubar dados sobre o desenvolvimento de vacinas contra a COVID-19 e violar sistemas de centenas de companhias ocidentais.
O congressista republicano pelo Texas Michael McCaul considerou, retomando as palavras de um alto funcionário do Departamento de Estado, que o consulado de Houston era "o epicentro do roubo de pesquisas pelo Partido Comunista chinês nos Estados Unidos, especialmente de informações confidenciais que servem para desenvolver seu exército".
O fato de que as pesquisas sobre uma vacina contra o coronavírus tenham sido objeto de espionagem mostra, segundo McCaul, "a ameaça que representam as atividades nefastas deste consulado em Houston, um centro da pesquisa biomédica e tecnológica".
No Twitter, a polícia de Houston confirmou que na terça-feira fumaça foi vista saindo do consulado, aparentemente depois da ordem americana de fechá-lo.
"Suponho que queimavam documentos", disse nesta quarta Trump, que não descartou fechar outras missões diplomáticas, se considerar necessário.
- "Ação escandalosa" -
A China tem cinco consulados nos Estados Unidos. O de Houston (Texas) foi aberto em 1979, ano em que foram estabelecidas relações diplomáticas entre os dois países, e tem 900.000 cidadãos chineses inscritos em seus registros.
"É uma provocação política (...) que viola gravemente o direito internacional", denunciou um porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin, que declarou que Pequim poderá buscar "represálias".
Além de uma embaixada em Pequim, os Estados Unidos têm cinco consulados na China continental e uma representação em Hong Kong.
Embora não pareça relacionada, a decisão de fechar o consulado de Houston acontece após dois hackers chineses serem denunciados pela justiça americana por ciberataques a empresas envolvidas na busca de uma vacina contra o novo coronavírus, acusações que Pequim nega com veemência.
O secretário americano de Justiça anunciou na terça a denúncia de "dois hackers chineses que trabalhavam com o ministro chinês de Segurança de Estado".
No entanto, não foram detidos e a princípio estão na China. Pequim negou as acusações.
Durante um comparecimento de Biegun no Congresso, vários senadores se queimaram da ineficácia da media. "Estamos como no Titanic", disse o republicano Mitt Romney. "Colocamos a música muito alta, mas estamos perdendo", acrescentou.
Nesse contexto de escalada das tensões, a China também alertou seus estudantes nos Estados Unidos nesta quarta sobre o risco de sofrerem "interrogatório arbitrário".
"Recentemente, as autoridades intensificaram os interrogatórios arbitrários, perseguição, confisco de bens pessoais e detenções de estudantes chineses nos Estados Unidos", acrescentou o Ministério das Relações Exteriores da China em um comunicado.