Jornal Estado de Minas

Jardineiro de Wimbledon acredita em grama mais verde 2021

Em circunstâncias normais, Neil Stubley, chefe dos jardineiros de Wimbledon, estaria observando com nervosismo o estado de sua grama, mas, atualmente, ele sofre de melancolia devido ao cancelamento do torneio por causa da pandemia do coronavírus.

Stubley lembra do esforço feito por toda sua equipe do All England Club, onde a cada ano é disputado o torneio mais tradicional do tênis mundial.





Enquanto os organizadores de Roland Garros e do US Open garantiram que seus Grand Slams seriam disputados em 2020, os responsáveis por Wimbledon optaram precocemente pelo cancelamento do torneio londrino pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.

Stubley considera surrealista passear pelo clube e ver seus 38 "bebês", como ele carinhosamente apelida suas quadras, sem vida.

"Muito sangue, suor e lágrimas foram derramados para colocar tudo em ordem" para receber os tenistas, afirma o jardineiro em coletiva de imprensa via internet.

"Mas nossa decepção é compartilhada por todos no clube. Estamos orgulhosos de nosso trabalho e de como é bem visto no mundo todo", completa.

Stubley, cujo cargo exato é Chefe de Quadras e Horticultura de Wimbledon, afirmou que o atual ambiente no clube, anormal para este período do ano, lembra o período pós-torneio, quando todos os jogadores vão embora para casa.





"É um momento particular e a melhor maneira de descrevê-lo é citar um estranho sentimento de calma", analisa.

"Eu o compararia a ir a um show: você fica com a melodia nos ouvidos durante os próximos dias", disse.

- "Orgulho" -

Stubley explicou que seus 17 funcionários, além de três trabalhadores temporários, continuam trabalhando apesar do cancelamento do evento.

"O orgulho nos leva a seguir trabalhando", garante. "É claro que é decepcionante que não joguem, mas a situação como um todo nos permite colocar isso em perspectiva".

"Apesar de amarmos nosso trabalho, temos que nos colocar no mundo real", completa.

Stubley apoiou a decisão, tomada em abril, de cancelar a edição de 2020 de Wimbledon, embora outros esportes estejam agora retomando suas competições. Para o jardineiro, há muito mais em jogo do que a simples superfície das quadras.

"As quadras de grama estavam em bom estado antes do cancelamento", afirma. "O que demora é a infraestrutura. Não é possível dizer que podemos jogar em duas semanas".





"É preciso de oito a dez semanas para que tudo esteja pronto. No início de abril, no meio da pandemia, era insustentável. E agora, com as restrições vigentes, seria impossível mantê-las em seu estado".

Stubley garante que sua equipe irá continuar respeitando a rotina habitual e focar na próxima temporada.

- "Arrancar a grama" -

"Sempre tento dizer para as pessoas que não consertamos as quadras, a gente prepara as quadras para a próxima temporada", explica.

"A partir de agosto, início de setembro, o processo será o mesmo: arrancar a grama, voltar a semear as quadras, deixar crescer tudo no outono e no inverno e depois fazer o mesmo trabalho preparatório para o torneio de 2021".

O jardineiro relembra que o momento mais memorável da carreira foi quando Andy Murray conquistou o título em 2013, se tornando o primeiro britânico a sagrar-se campeão em Wimbledon desde Fred Perry em 1936.

"Estar na quadra central durante aquela vitória, foi um desses momentos em que você se arrepia", lembra. "Ironicamente, eu ficava olhando para os pés de Murray".

"Eu sempre olho para como estão reagindo as quadras e foi só quando levantei os olhos que vi que ele havia jogado a raquete, quando me dei conta que ele tinha vencido o match-point e o título", lembra.

Agora, Stubley terá que esperar mais um ano para que os fãs do tênis voltem seus olhares para a mítica grama de Wimbledon.





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