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Estado de Minas

Policiais americanos entre a vergonha e postura defensiva após a morte de George Floyd


postado em 14/06/2020 10:31

O mal-estar cresce na força policial americana, forçada mais do que nunca a se questionar após a morte de George Floyd. Enquanto alguns reconhecem a necessidade de reforma, outros lutam para digerir as acusações de racismo institucional que visam as forças de ordem.

Da Califórnia a Massachusetts, os policiais interrogados pela AFP se disseram escandalizados com o que chamaram de "assassinato". Mas muitos se queixam de serem injustamente comparados a "maçãs podres", como o policial branco de Minneapolis que asfixiou George Floyd, mantendo o joelho em seu pescoço, apesar das súplicas.

"Eu não sou Derek Chauvin!", indigna-se Michael O'Meara, presidente do sindicato da polícia do estado de Nova York. "Ele matou alguém, nós não. Parem de nos tratar como animais", disse ele recentemente diante de centenas de colegas reunidos em Manhattan.

Derek Chauvin cometeu "um ato criminoso que nos envergonha", declarou à AFP Shaun Willoughby, 41 anos, chefe do sindicato da polícia de Albuquerque, Novo México. "Mas é realmente frustrante que todos sejam colocados no mesmo saco".

A mesma critica vem sendo abordada há décadas pela população negra em relação à sociedade americana, onde um homem negro é frequentemente considerado a priori um perigo potencial.

A raiva dos manifestantes que saíram às ruas desde o final de maio vai além do caso de George Floyd. É produto de uma "longa história de violência infligida aos negros americanos que a polícia, como instituição, deve reconhecer", ressalta Louisa Aviles, especialista em justiça criminal da Universidade John Jay, em Nova York.

Os policiais americanos matam, em média, três pessoas todos os dias e "pelo menos metade dessas mortes não é necessária para preservar a vida de policiais ou civis", revela Franklin Zimring, criminologista da Universidade de Berkeley.

- "A melhor arma, a boca" -

Os afro-americanos estão super-representados nessas mortes e "não há dúvida" para Ben Kelso, 53 anos, chefe do escritório local de San Diego da Associação Nacional de Policiais Negros.

Ele afirma que sofre racismo desde tenra idade e não vê uma solução milagrosa para remediá-lo, mas insiste na importância do diálogo diário e no questionamento da formação de policiais.

"Passamos muitas horas ensinando como dirigir, atirar e deter pessoas, mas não muito aprendendo a conversar com as pessoas", estima. "Porque, no final do dia, a melhor arma de um policial é a boca".

Muitas cidades adotaram novas práticas, em particular para proibir o mata-leão ou fortalecer procedimentos disciplinares. Um projeto de lei também está sendo estudado em nível federal.

"Não temos medo de reformas ou mudanças. Mas queremos nos envolver nas discussões", diz Michael O'Meara, cujo sindicato defende os interesses de cerca de 40.000 policiais.

Branville Bard Jr., chefe de polícia de Cambridge, Massachusetts, há muito pede essa mudança. Ele espera que a "morte doentia" de George Floyd sirva de gatilho.

"Não posso dizer quantas vezes fui parado enquanto dirigia. Mostro meus documentos de identidade e a situação não se deteriora, mas ainda tenho medo porque carrego uma arma e tenho a pele preta", explica.

Para Bard, é preciso "aumentar o preço dos erros", punindo todos os policiais presentes quando os abusos são cometidos, mesmo que não tenham participado ativamente.

Outros estão claramente na defensiva. "Como profissionais, estamos sob ataque", estima Patrick Lynch, 56 anos, presidente de um sindicato policial na cidade de Nova York.

Richard Wells, que dirige outro sindicato de Nova York, diz que o reforço das sanções contra a polícia será contraproducente. "Os policiais hesitarão em fazer seu trabalho, porque em qualquer situação dirão a si mesmos que poderão ter problemas".

O que mais machuca um oficial de 34 anos de Nova York, filho de imigrantes, é a crescente demanda por cortes no orçamento da polícia para financiar programas sociais e educacionais.

"É irônico e doloroso, porque estamos todos os dias tentando prestar serviço e proteger" os cidadãos, diz ele.


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