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Estado de Minas

No Afeganistão, talibãs enfrentam o inimigo coronavírus


postado em 04/06/2020 11:55

A propagação do novo coronavírus nos territórios controlados pelos talibãs representa um novo inimigo para os insurgentes afegãos.

Habib Rahman, um comerciante de 32 anos que mora na província de Helmand, no sul, conta ter "tosse, febre e dor no peito" há meses.

Nesse bastião de insurgentes, "não há centro para diagnosticar, ou curar, pacientes com coronavírus, e não são feitos esforços para aumentar a conscientização sobre a doença", lamenta.

Os rebeldes negam, mas, segundo a imprensa estrangeira, vários talibãs teriam contraído o coronavírus.

Em março, eles lançaram uma campanha contra o vírus para demonstrar que são capazes de administrar o país melhor do que o governo.

Imagens de distribuição de máscaras e de sabão aos moradores foram publicadas, mas sem respeitar as distâncias de segurança. Em uma dessas fotos, o talibã, de máscara facial e roupa de proteção, verifica a temperatura dos habitantes. Perto havia armas automáticas.

- Incredulidade -

O Afeganistão tem oficialmente 18.000 pacientes com COVID-19, incluindo 3 mil mortos. Milhares de pessoas infectadas vivem no território dos talibãs.

Este número é, provavelmente, muito menor do que a realidade, já que apenas 20% dos casos suspeitos são testados, segundo as autoridades, em um país que viveu quatro décadas de guerra que destruíram a infraestrutura de saúde.

A doença veio do oeste, quando dezenas de milhares de migrantes afegãos retornaram do vizinho Irã. Os talibãs então ordenaram que centenas de pessoas fossem colocadas em quarentena. Em algumas áreas sob seu controle, autorizaram as autoridades de saúde do governo a monitorarem a propagação do vírus, um exemplo raro de cooperação entre os dois lados. Em outras áreas, no entanto, os habitantes se sentem abandonados.

Em Kunduz (ao norte), cidade que os talibãs tentaram reconquistar recentemente, sem sucesso, os insurgentes bloquearam o acesso do pessoal médico.

"Eles disseram que lidariam com o vírus por conta própria", explica o doutor Sebghatullah, preocupado com o fato de a população ignorar as medidas de higiene.

Haji Qudratullah, morador de Helmand, ao sul, lembra-se de ter visto um talibã filmando um vídeo promocional em uma clínica. Nunca mais voltou.

"Eu nunca vi alguém fazer algo para aumentar a conscientização sobre o vírus", comenta Haji, embora os talibãs garantam que estão combatendo a COVID-19.

"Pessoas com febre alta, tosse, ou dores no corpo, são levadas para Trinkot", relata Hafez Mohammad, comandante talibã do distrito de Dehrawood, na província de Oruzgan (ao sul), da qual Trinkot é a capital.

- Contra a religião -

"Nossas equipes móveis usam motocicletas e levam pessoas com sintomas para o hospital", disse o porta-voz do movimento, Zabihullah Mujahid, ao ser questionado pela AFP.

Ainda segundo ele, também são distribuídos panfletos, explicando como se proteger do vírus.

Para especialistas, os talibãs enfrentam muitos obstáculos.

"Não há ambulâncias, ou equipes profissionais capazes de coletar amostras, ou curar casos suspeitos", aponta Hamid Ahmadi, funcionário do governo.

Entre 1996 e 2001, quando os talibãs estavam no poder, a infraestrutura de saúde era medíocre, com pouco apoio estrangeiro e pessoal médico mal remunerado.

Em uma mensagem por ocasião da Aid al-Fitr, no final de maio, o chefe dos talibãs, Haibatullah Akhundzad, solicitou à população que pedisse ajuda ao pessoal de saúde contra a doença.

Diante da COVID-19, as pessoas precisam "tentar obter o perdão de Alá e parar de desobedecer às ordens", disse o líder dos talibãs, culpando o vírus por uma "transgressão" do Islã.


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