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Estado de Minas

Na Colômbia, a vida sem água corrente em meio à pandemia


postado em 01/06/2020 10:55

A água nem sempre flui pela mangueira de borracha preta que fica atrás da casa de Yeimy Martínez. Em plena pandemia, o simples gesto de lavar as mãos é um desafio em um bairro pobre de Bogotá.

"Às vezes a água chega, às vezes não (...) Se fico sem água, não tenho como lavar as mãos, como dar banho no meu filho (...) como limpar minha casa", lamenta esta jovem 21 anos de idade.

Como outras 80 famílias, ela sobrevive em uma das construções de madeira e telhado de chapa metálica agrupadas ao pé de um penhasco em Ciudad Bolívar, ao sul da capital colombiana de oito milhões de habitantes.

Apesar da falta de água encanada e de um sistema de coleta e tratamento de esgoto, esse assentamento ilegal foi batizado de Sonhos 2. O apelido dado por seus habitantes é ainda mais irônico: "cachoeira", em razão do esgoto que cai das casas mais altas.

"Tudo aqui é mais difícil, e ainda mais com esta quarentena. Estamos ferrados", desabafa Yeimy.

Junto com o marido, o filho de seis anos e o pai, ela divide um quarto com três camas, uma televisão antiga e armários precários. A cozinha não tem geladeira, nem pia, apenas um fogão a gás.

- O luxo do desinfetante -

Várias vezes ao dia, Yeimy precisa percorrer um caminho difícil para pegar água com um balde de plástico e carregá-la para a casa modesta.

Desde 20 de março, quando o confinamento começou em Bogotá, essa vendedora ambulante de CDs não pôde mais trabalhar, e seu marido, um operário de 28 anos, também não.

Nos "dias bons, ele conseguia ganhar até 50.000 pesos (cerca de US$ 13) e, com isso, fazer o mercado", conta ela.

Agora, sem dinheiro para comprar nem mesmo um quilo de arroz, não pode se "dar ao luxo" de comprar um desinfetante para compensar a falta de água.

Christian Robayo, prefeito de esquerda, diz que a "situação extrema foi exacerbada" pela COVID-19 em Ciudad Bolívar, onde metade de seus 800.000 habitantes, especialmente os informais, "precisam de ajuda social".

O governo alega ter fornecido US$ 1,2 bilhão em subsídios para as famílias pobres atingidas pela crise em toda Colômbia, mas os pedidos por mais ajuda persistem.

Pelo menos 47% da população ativa do país vive da economia informal e quase sete dos 48 milhões de habitantes não têm acesso à água corrente, apesar de o país ser considerado uma fonte de água e de a Justiça exigir um mínimo vital do líquido para populações vulneráveis.

A Colômbia contabiliza mais de 900 mortos e 29.000 infectados pelo novo coronavírus desde a detecção do primeiro caso, em 6 de março.

"Ciudad Bolívar é um dos distritos onde a curva está aumentando", afirma Robayo.

Na parte baixa do bairro, Jorge Ariza cultiva uma pequena horta. Na frente de sua casa, em um dos estacionamentos de ônibus, uma vaca e dois bezerros do vizinho pastam. Alguns patos também vagam por lá.

Aos 51 anos, Ariza é um reciclador que, 11 anos atrás, foi deslocado do campo pela violência na Colômbia. Ele mora em uma casa de dois andares que construiu com as próprias mãos para sua família de cinco filhos.

Também se abastece com uma escassa corrente de água que chega através de uma conexão pela qual pagou 130.000 pesos (cerca de US$ 35). "Serve para cozinhar, lavar", relata Jorge, apontando os baldes que carrega do pátio para a cozinha.

Para regar a horta, ou dar descarga no banheiro, ele recorre à água coletada da chuva.

"Neste momento, não podemos ir ao mercado livremente (...), não podemos trabalhar, então essa horta tem nos servido para os alimentos, frutas, verduras e medicamentos também", diz aliviado.

Sem dinheiro para remédios, esse indígena do povo Pijao administra com suas plantas enquanto o vírus espreita.

"A parte medicinal deste jardim nos ajudou muito (...) para as dores de cabeça (...) gripe, tontura", completa.

Quando o confinamento terminar, Jorge e Yeimy retornarão às ruas sem muita esperança de ver a água sair da torneira.


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