Jornal Estado de Minas

Endividamento por pandemia pode renovar temores de saídas do euro, diz BCE

Os temores de saída do euro por parte dos países mais endividados, devido ao impacto do novo coronavírus, podem aumentar nos mercados, se não forem tomadas medidas para limitar o ônus da dívida - alertou o Banco Central Europeu (BCE) nesta terça-feira (26).



"Se as medidas tomadas em nível nacional, ou europeu, forem consideradas insuficientes para preservar a viabilidade da dívida (em alguns países), a avaliação dos mercados sobre o risco de redenominação ainda poderá aumentar", indica um relatório semestral da instituição sobre a estabilidade financeira.

Os níveis de endividamento nos países da zona do euro devem aumentar significativamente - entre 7% e 22% em 2020 -, aumentando a proporção da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) da região de 86%, em 2019, para em torno de 103%, em 2020, explica o banco.

Em geral, a zona do euro procura limitar a dívida pública a 60% do PIB, embora essa regra, que consta do Pacto Europeu de Estabilidade e Crescimento (PEC), tenha sido suspensa devido à pandemia.

Duramente atingidos por dois meses de confinamento, que paralisaram sua economia, os países europeus apresentaram programas de ajuda de bilhões de euros nas últimas semanas, a serem financiados principalmente por empréstimos.



O BCE não questiona esses planos de apoio e reconhece que, sem eles, "o custo econômico e o impacto no mercado teriam sido, provavelmente, muito mais duros".

Em paralelo, o instituto monetário decidiu aumentar suas compras de dívida pública e lançar um plano de emergência frente à pandemia, com um volume de mais de 1 trilhão de euros (1,1 trilhão de dólares), até 2020.

Isso permitiu "impedir que se aprofundassem as diferenças nas taxas de juros" da dívida pública na zona do euro, entre a da Alemanha (que serve de referência) e as dos demais países.

- "Trajetória insustentável" -

O BCE procurou tranquilizar os mercados, nervosos com a queda da atividade e com o aumento do déficit orçamentário em países como Espanha e Itália.

Uma contração econômica mais prolongada na zona do euro faria, porém, que a relação entre dívida pública e PIB acabasse em "uma trajetória insustentável nos países endividados", alerta a instituição.

Além disso, os países podem ter dificuldade em conseguir financiamento nos mercados, "se os investidores considerarem que a viabilidade de sua dívida pública se deteriorou" e exigirem rendimentos mais altos.

Amanhã, a Comissão Europeia vai propor um plano de recuperação que pode chegar a 1 trilhão de euros (1,1 trilhão de dólares) para superar a crise causada pelo coronavírus.

As negociações se anunciam difíceis entre os europeus.

França e Alemanha defendem seu projeto para impedir que as taxas da dívida pública italiana e espanhola disparem, protegendo esses países com um sistema de empréstimos europeu, enquanto quatro países - entre eles Áustria e Holanda - são hostis à mutualização da dívida.