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Estado de Minas

Historiador Khaled Fahmy teme aumento excessivo de controle por pandemia


postado em 26/05/2020 11:07

O intelectual egípcio Khaled Fahmy, professor de História na Universidade de Cambridge e especialista em epidemias, teme que os governos aproveitem a pandemia do novo coronavírus para reforçar seu controle de segurança sobre os cidadãos.

"A forma como os governos vão poder vigiar os atos e gestos de cada um é alarmante", afirma o acadêmico, em uma entrevista on-line à AFP.

"O temor é que, uma vez que se concedam estes direitos aos governos, será muito difícil revogá-los", afirmou, baseando-se no exemplo egípcio.

No país mais populoso do mundo árabe (100 milhões de habitantes), o presidente Abdel Fattah al-Sissi aprovou em maio uma série de emendas à lei sobre o estado de emergência. Defensores dos direitos humanos denunciam as mudanças como um reforço dos "poderes repressivos" em nome da luta contra o coronavírus.

- Aumento do controle -

Essas emendas permitem ao presidente fechar escolas, suspender o setor público, proibir reuniões públicas, ou privadas, e colocar em quarentena os viajantes que chegarem ao país.

"Se você comparar o que está acontecendo no Egito agora e a epidemia de cólera de 1947, a grande diferença é a mídia e como eles estavam abertos na época, enquanto agora estão fechados em termos de cobertura da epidemia", aponta Fahmy.

Desde o início da pandemia, as autoridades intensificaram sua repressão e prenderam vários jornalistas e militantes.

"O que enfrentamos agora é muito mais perigoso", alertou.

Há "um ressurgimento da vigilância e graves invasões à privacidade, em nome do controle da epidemia", diz o acadêmico, exilado na Grã-Bretanha desde 2014, devido às suas opiniões críticas.

Ele também observa o destino preocupante de cerca de 60.000 presos políticos no país, segundo várias ONGs, cuja saúde é ameaçada por suas condições de detenção em prisões superlotadas em meio a uma pandemia.

"Estão detidos injustamente e agora estão em perigo", criticou.

"Do século XIV ao início do século XIX, a praga atingiu o Egito mais de 190 vezes. Em média, o Egito foi afetado pela praga uma vez a cada nove anos", conta o historiador.

"As quarentenas começaram a ser impostas no Egito muito estritamente" após a pandemia de cólera de 1831, iniciada na China antes de se espalhar para o Oriente Médio.

Seu livro "All the Pasha's Men" ("Todos os homens do Paxá", em tradução livre) narra como Mehmet Ali, um obscuro governador otomano, assumiu o Egito no século XIX, por meio da criação de um Exército poderoso, envolvido em todos os aspectos da vida pública, incluindo saúde.

Publicado em 1997, obteve muito sucesso e ainda está nas bancadas das livrarias instaladas nas calçadas do Cairo.

O historiador também explica como, hoje, o Exército mantém um papel determinante. O ex-general Al-Sissi, que assumiu o cargo de presidente em 2014, reforçou ainda mais o papel do Exército na vida pública egípcia.

Unidades militares foram recentemente implantadas para desinfetar ruas e outros espaços públicos. Os militares também venderam equipamentos de proteção médica aos egípcios a preços acessíveis.

Até o momento, o Egito registrou cerca de 16.000 casos de contágio e mais de 700 mortes. O número de novas infecções está aumentando, com centenas de casos detectados diariamente.

No plano pessoal, Fahmy afirma viver o confinamento como um exílio reforçado.

"Sou um egípcio que não pode voltar para o Egito por várias razões, e o fato de estar em confinamento reforça essa realidade", desabafa.


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