Jornal Estado de Minas

Confinados, britânicos levam tradições do pub à Internet

Um vírus mortal estremece o planeta, mas a questão premente agora é "quem foi o primeiro marido de Madonna?". Demonstrar conhecimento inútil, bebendo com os amigos é uma tradição sagrada nos pubs britânicos que, com o confinamento, chega ao ciberespaço.



"É puro escapismo por mais ou menos uma hora", explica Dan March, que costumava organizar esses concursos nos bares tradicionais britânicos e agora faz isso para seus amigos por meio do serviço de videoconferência Zoom.

Fala-se de tudo, menos do coronavírus, com questões que vão do conhecimento geral à cultura popular. Na semana passada, 80 pessoas já estavam registradas.

"Não há nada mais divertido do que encontrar esse tesouro de conhecimento inútil em seu cérebro", diz March. "E também brigar com os amigos sobre a resposta", completou.

Também fora dos pubs, os concursos de perguntas e respostas são um assunto sério no Reino Unido.

O programa de televisão "Quem quer ser um milionário?" foi criado no país, e o impossível "Desafio Universitário" foi transmitido na televisão britânica no horário nobre durante anos.

Pode até se tornar arte depois que o Teatro Nacional anunciou concursos mensais como parte de seu programa durante o confinamento, com atores carismáticos como Helen Mirren e Ian McKellen.



- Brincar pela glória -

March é ator, mas como atividade secundária escreve há 15 anos concursos para pubs, incluindo para o estabelecimento de McKellen no leste de Londres.

Ao contrário dos pubs, não cobra por seus concursos on-line, nem existe um prêmio.

Mas incentiva as pessoas a tomarem uma bebida e a jogarem em equipes, seja em casa, seja se conectando com amigos confinados em outros lugares.

Os jogadores devem silenciar seus microfones enquanto as perguntas são lidas, mas March permite "um pouco de brincadeira" entre uma e outra.

As equipes pontuam seus próprios resultados, ao contrário de quando estão em um pub, onde é comum passar as respostas para verificação da mesa vizinha.

March está tranquilo: "você brinca pela glória e, se trapacear, não há glória".

Rachel Walker também recebeu uma avalanche de propostas para organizar concursos desde o início do confinamento e, hoje, faz três ou quatro por semana.



Escreveu o primeiro a pedido de amigos há algumas semanas, mas agora os usa para arrecadar dinheiro para a instituição de caridade em que trabalha: Marie Curie.

Esta organização é especializada em cuidar de pacientes terminais e tem mais de 2.000 enfermeiros trabalhando no Reino Unido.

Como muitas outras instituições de caridade no país, foi duramente atingida pelo confinamento contra a pandemia.

"Todos os nossos eventos de captação de recursos foram cancelados. Perdemos milhões", explica Walker.

A participação nos concursos é paga com doações voluntárias.

"Eu gosto de pensar que isso vai ajudar de alguma forma", diz.

Walker começou a usar perguntas de uma edição antiga do jogo Trivial Pursuit. "Mas todo mundo disse que era muito difícil!", lembra.

Então começou a escrever suas próprias. "Não precisam ser muito difíceis porque desencorajam as pessoas, embora se queixem mais se forem fáceis demais", afirma.

Seus concursos são temáticos: sobre os anos 1980, sobre Londres, sobre música rave ... E incentiva as pessoas a se vestirem de acordo com o tema.

O coronavírus também não é mencionado aqui.

E, como o Teatro Nacional, Walker está trazendo celebridades para atrair um público maior: o ex-jogador de futebol Chris Kamara organiza um concurso para a família na próxima semana.

E a pergunta sobre Madonna? A resposta é Sean Penn.