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Estado de Minas

Diário sobre confinamento em Wuhan provoca ira dos nacionalistas chineses


postado em 22/04/2020 07:31

Uma escritora chinesa que publicará no exterior um diário sobre seu confinamento em Wuhan foi chamada de "traidora" pelos nacionalistas, que a acusam de estimular as críticas a Pequim por sua gestão da pandemia de coronavírus.

Fang Fang, de 64 anos, nascida em uma família rica e com vários intelectuais, é uma romancista conhecida em seu país e integrada ao sistema. Em 2010, venceu o prêmio literário de maior prestígio do país.

Em Wuhan, onde mora, ela começou a escrever um diário em 23 de janeiro, que terminou em março, após 60 textos publicados na internet, nos quais ela comenta o medo, a revolta e a esperança dos 11 milhões de habitantes da cidade, epicentro da pandemia.

O diário menciona hospitais saturados que rejeitam pacientes, sua vida confinada, a morte de parentes, solidariedade entre habitantes, ou o simples prazer de observar o sol a partir de seu quarto.

"Um amigo médico me disse: nós, os médicos, sabemos há algum tempo que há uma transmissão entre humanos da doença. Informamos os nossos superiores, mas apesar disso ninguém advertiu a população", escreveu no 38º dia de confinamento.

A crônica pessoal, não jornalística, do confinamento foi acompanhada por milhões de chineses interessados em uma visão diferente da divulgada pela imprensa oficial, controlada pelo Estado.

Mas Fang Fang provoca polêmica porque seu diário será publicado nos próximos meses em forma de livro no exterior, em inglês, alemão e francês.

A principal crítica à escritora é que a tradução do diário fará os estrangeiros criticarem o governo chinês, sobretudo Estados Unidos, país que acusa Pequim de ter demorado a reagir à pandemia.

"Bravo Fang Fang. Você está dando munição aos países ocidentais para ter a China como alvo", escreveu um usuário na plataforma Weibo, similar ao Twitter.

"Você mostrou sua natureza traiçoeira", completou.

"Por quanto você vendeu o seu diário?", questiona outra pessoa, que acusa a escritora de enriquecer ao custo dos quase 3.900 mortos por coronavírus em Wuhan.

- "País autoritário" -

Outra fonte de polêmica é a apresentação politizada do livro feita pela editora americana HarperCollins, que destaca um texto que "combina o misterioso e o distópico" de uma escritora que luta contra "os problemas políticos sistêmicos de um país autoritário".

Hu Xijin, influente diretor de redação do jornal nacionalista Global Times, afirmou que "não é de bom gosto" publicar agora uma tradução do diário, em pleno conflito diplomático com Washington.

"No final, serão os chineses, incluindo aqueles que apoiaram Fang Fang no início, que pagarão o preço de sua fama no Ocidente", escreveu Hu no Weibo, um comentário que recebeu mais de 190.000 curtidas.

O Global Times considera o livro "tendencioso, que expõe apenas o lado sombrio de Wuhan".

Criticada e insultada, Fang Fang afirma ser vítima de "cyberbullying" por parte dos nacionalistas.

A consequência, de acordo com ela, é que várias editoras chinesas interessadas na publicação do texto hesitam agora, em consequência da polêmica.

"Por que não publicar este livro? Só porque alguns poderiam nos utilizar? (...) Se as pessoas realmente lerem meu diário, elas descobrirão as medidas efetivas que a China tomou contra a epidemia", afirmou a escritora no site da revista Caixin.

Ela prometeu doar tudo o que receber pelos direitos autorais do livro às "famílias dos profissionais da saúde que morreram" no combate à pandemia.

Diante das críticas, muitas pessoas saíram em defesa de Fang Fang na rede social Weibo, considerando que os ataques são "desproporcionais".

"Fang Fang não deve nada a ninguém", afirmou uma fã. "Você é livre para escrever um diário que vai contra o que ela escreveu, traduzi-lo e publicá-lo no exterior".


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