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Estado de Minas

Medo da pandemia aumenta vigilância entre vizinhos nos EUA


postado em 19/04/2020 16:31

Alguns reclamam daqueles que saem para correr; outros se perguntam se quem sai às ruas tem um trabalho essencial ... Nos tempos do coronavírus, os grupos criados em redes sociais nos Estados Unidos, usados para trocar receitas, visualizar ofertas ou procurar emprego, se tornaram um espaço para vigilância.

Esse uso das plataformas digitais em meio a confinamentos preocupa especialistas, que temem que, com o tempo, esse comportamento vigilante afete negativamente os direitos das pessoas.

"Estou muito angustiado ao ver que alguns equivocados ignoram as regras impostas para que todos possamos superar essa situação horrível", diz um membro de um grupo numa rede social num subúrbio de Washington, onde muitas pessoas se queixaram de vizinhos que não respeitam a distância social.

"Sugiro algo. Se você vê esse comportamento, por que não tira fotos ou faz vídeos dos infratores? Isso poderia desencorajar o comportamento perigoso deles", escreveu outro.

Monitorar as ações dos vizinhos e expor as pessoas nas mídias sociais certamente não é novidade. Mas hoje "há um sentimento de que, se o fizermos, podemos salvar vidas", disse Emily Laidlaw, professora associada da Universidade de Calgary, que estuda leis de privacidade.

"Com a COVID-19, temos medo e há uma necessidade urgente de aplicar as regras do distanciamento social. Causar vergonha é realmente uma das únicas ferramentas que temos", acrescenta.

Exemplos são abundantes em plataformas como Nextdoor, uma rede social local que exige que seus usuários usem seu nome real e verifiquem sua localização.

"Meus vizinhos estão bêbados e estão fazendo uma festa", publicou recentemente nessa plataforma um morador de um bairro de classe média de Los Angeles .

"Um deles começou a reclamar alto perto da minha porta (dizendo) que outro mês de quarentena é estúpido e que ele não iria cumprir isso", acrescentou.

As postagens que buscam envergonhar publicamente terceiros contradizem as regras de comportamento do Nextdoor, e os comentários desse conteúdo são removidos, de acordo com os responsáveis pelo aplicativo, que também possui lembretes para que os usuários mantenham respeito em suas postagens.

Embora essas normas tenham sido modificadas nas últimas semanas para se ajustarem a esse período relacionado à COVID-19.

- "Parem de julgar" -

"Definitivamente, existe a vergonha pública. Isso ajuda a manter as pessoas em casa", disse à AFP Divya Sonti, que trabalha na IQ Solutions, empresa especializada em comunicação e tecnologias da informação ligadas à saúde.

Laidlaw, especialista em privacidade, também acredita que esse tipo de controle social pode ser eficaz, embora a um determinado preço.

"Há um custo que deve ser reconhecido, vítimas que caem injustamente e a normalização da vigilância entre vizinhos", afirmou.

Um usuário do grupo de mensagens de um bairro de Washington manifestou preocupações semelhantes.

"Entendo a preocupação (para aqueles que não atendem aos padrões), mas tornar-se uma comunidade do tipo de estado policial não é saudável", escreveu.

"Não é bom tirar uma foto de pessoas e publicá-la", escreveu outra pessoa em um grupo no Nextdoor, em Los Angeles, depois que um usuário postou imagens de pessoas que o queixoso disse estavam andando muito perto.

"O que vem a seguir? Um trem para Dachau?", acrescentou, referindo-se ao campo de concentração nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

Segundo Laidlaw, a vigilância e a exposição pública para embaraçar outras pessoas já existiam e estavam a caminho da normalização antes da pandemia.

Mas até agora, estima a especialista, essas práticas receberam em resposta uma forte condenação social.

"Estou preocupado que assim que a poeira baixe, o que antes era condenável se tornará o novo normal", explicou.

A vigilância nas redes também recebeu respostas que pedem compaixão, como as mensagens que circulam viralmente no Facebook, que pedem mais compreensão nos momentos em que o dia-a-dia se tornou muito difícil para muitas pessoas.

"Você já pensou que o cara que compra um galão de tinta fez isso porque sabe que deveria se manter ocupado, porque não sabe o que fazer com a ociosidade?", escreveu um deles.

"Eu sei que estamos todos no limite, mas por favor, parem de julgar os outros."


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