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Estado de Minas

Eventos que reúnem multidões são fatores de propagação do coronavírus


postado em 10/04/2020 12:55

A reunião de uma seita na Coreia do Sul, uma concentração evangélica na Alsácia ou partidas de futebol na Europa. Eventos de massa contribuíram para a disseminação do coronavírus em todo o mundo, levantando questões sobre sua organização após o fim do confinamento.

A China acaba de reduzir as restrições em Wuhan, onde a pandemia teria se originado, e alguns países europeus estão começando a estudar estratégias para sair do confinamento.

Mas especialistas alertam para o levantamento antecipado e generalizado das medidas tomadas para interromper a transmissão do vírus.

"O pior cenário seria uma espécie de Dia da Vitória com todos na rua, se abraçando", diz David Lalloo, diretor do Instituto de Medicina Tropical de Liverpool (LSTM).

Em tal situação, "todas as pessoas infectadas e assintomáticas estarão ainda mais suscetíveis à propagação da doença", explicou à AFP, pedindo um retorno gradual à normalidade e "muito mais controlado".

O papel das manifestações na transmissão da doença não é uma descoberta recente. O Centro Americano de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) lembrou que a pandemia de gripe de 1918 ganhou impulso com as celebrações do armistício e o retorno dos soldados a suas casas.

- O paciente 31 -

Um dos riscos nas concentrações é a presença de um "supercontaminador", alguém capaz de infectar um grande número de pessoas.

Especialistas pensam especialmente no caso do "paciente 31" na Coreia do Sul.

Em 10 de fevereiro, uma mulher sul-coreana de 61 anos sentiu febre. Membro da seita "Igreja de Jesus Shincheonji", ela havia participado de pelo menos quatro cultos religiosos em Daegu (sul), antes de testar positivo para o coronavírus.

Em apenas algumas semanas, milhares de casos de coronavírus estavam relacionados a membros da seita.

"O esquema é muito comum. Um vai a uma reunião familiar ou religiosa e contrai a doença. Depois, vai para casa e a espalha", explica o professor KK Cheng, especialista em saúde pública da Universidade de Birmingham.

Segundo ele, o enorme êxodo anual de pessoas durante o Ano Novo Chinês provavelmente favoreceu a propagação internacional do vírus.

A França registrou a primeira morte devido à COVID-19 fora da Ásia em meados de fevereiro. Poucos dias depois, cerca de 2.000 cristãos evangélicos, muitos dos quais eram portadores do vírus sem saber, se reuniram em Mulhouse, leste da França.

Mais tarde, essa reunião foi relacionada a casos em toda a França e o leste do país se tornou uma das áreas mais afetadas.

Eventos esportivos também foram destaque, como a partida da Liga dos Campeões, realizada em 19 de fevereiro em Milão, no norte da Itália, entre Atalanta Bergamasca e o clube espanhol Valencia.

O prefeito de Bérgamo, Giorgio Gori, declarou que 40.000 habitantes de sua cidade haviam viajado para Milão, enquanto muitos outros se reuniam em suas casas ou em bares para assistir à partida.

"Está claro que aquela noite foi uma ótima ocasião para a propagação do vírus", disse.

Bérgamo foi duramente atingida pela COVID-19.

O Valencia informou que 35% de seus funcionários (jogadores ou treinadores) deram positivo após a partida em Milão.

A responsabilidade das autoridades também é analisada. Segundo KK Cheng, a relutância que demonstraram em alguns países em cancelar grandes eventos significa que "algumas pessoas morreram inutilmente, como diriam alguns".

Mas, reconhece, os formuladores de políticas enfrentam uma nova doença e não há resposta fácil.

- "Colocar milhões de pessoas em risco" -

A questão de saber como e quando restringir eventos públicos também gera debate entre os especialistas mundiais.

Um artigo publicado no mês passado na revista britânica The Lancet destacou que "historicamente, esportes, eventos religiosos, musicais e outros (de massa) foram a origem de doenças infecciosas que se espalharam pelo mundo".

Mas os autores do artigo também apontaram que medidas de saúde pública contribuíram para mitigar esse problema nos últimos anos.

Outro grupo de especialistas respondeu alertando contra a "aprovação explícita" de eventos planejados durante uma "crescente pandemia global".

"Permitir reuniões de massa nessas circunstâncias pode pôr em risco milhões de participantes e, em seu retorno, também aqueles que permaneceram em seus países de origem", disseram esses especialistas, incluindo o vice-ministro da Saúde da Arábia Saudita, Riad Memish, diretor do centro da OMS para a medicina de eventos de massa.

Além do fim do confinamento, os especialistas se perguntam sobre as consequências que a crise atual poderá ter a longo prazo na organização de grandes eventos.

"Alguém se sentirá mais nervoso ao abraçar outras pessoas ou apertar as mãos? Não sei a resposta", diz David Lalloo. Mas ele acredita que "haverá mudanças em nossa maneira de assistir a eventos esportivos ou a um concerto no futuro".


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