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Estado de Minas

A vida em marcha lenta em Wuhan, onde o medo persiste após o fim do confinamento


postado em 09/04/2020 11:43

O salão de cabeleireiro de Ah Ping está aberto, mas os clientes não aparecem. O pesadelo do coronavírus terminou em Wuhan, mas a vida está longe de recuperar sua normalidade na cidade chinesa onde a COVID-19 surgiu.

Em seu salão de beleza, em meio aos assentos vazios, Ah Ping quer desesperadamente trabalhar, agora que a metrópole de 11 milhões de habitantes deixou para trás os 76 dias de confinamento.

Mas o medo do vírus, que matou mais de 2.500 pessoas nesta cidade, ainda está presente.

"Quando as pessoas saírem, as infecções provavelmente aumentarão. Estou com muito medo", admite Ah Ping, de 43 anos, que usa um pseudônimo.

Embora os moradores de Wuhan tenham sido autorizados a sair da cidade desde quarta-feira, as escolas permanecem fechadas, os restaurantes preparam refeições apenas para viagem e dezenas de bairros residenciais tiveram que reimpor o confinamento.

Os vizinhos precisam ter um código QR verde em seu telefone que comprova que estão com boa saúde. Sem essa chave, não podem sair de casa, pegar o transporte público ou acessar a maioria dos lugares.

Por esse motivo, as ruas estão vazias e o retorno à normalidade parece distante.

Mas para comerciantes como Ah Ping, a retomada das atividades é vital. O cabeleireiro pagou três meses de aluguel em janeiro, pouco antes da quarentena ser imposta, e terá que pagar novamente nos próximos dias.

"Paguei 15.000 yuanes (cerca de 2.100 dólares) de aluguel sem ter um único cliente", reclama.

No resto do país, os habitantes sempre saem de máscara, mas a vida retoma o curso pouco a pouco.

Em Wuhan, as autoridades parecem temer um novo surto depois do fim do confinamento.

O conselho da cidade reintroduziu a quarentena em 70 bairros residenciais, dos 7.000 da cidade, depois de detectar várias pessoas "assintomáticas" com COVID-19.

Em sua pequena loja, Zhou, uma vendedora de 59 anos, explica que as pessoas nem se atrevem a fazer compras e preferem fazer pedidos online.

Ela própria tem medo de se deslocar pela cidade. Só sai quando não tem alternativa, e sempre com traje de proteção, máscara e luvas.

"É realmente muito difícil agora. Conheço pessoas que foram infectadas. É muito assustador", diz a mulher.

A circulação foi retomada na quarta-feira com ônibus e táxis, mas muitas barreiras impedem o acesso a determinados lugares.

O saldo diário de novas infecções quase caiu para zero, mas em Wuhan ninguém confia nos dados oficiais.

Muitos moradores não podem sair de casa porque não possuem o código QR necessário: o telefone permite acompanhar seus movimentos e verificar se vivem ou passaram perto de setores de alto risco.

Isso impede que milhares de trabalhadores migrantes retornem às regiões industriais do sul e leste do país.

E quando conseguem voltar ao trabalho, os "heróis" de Wuhan louvados pela propaganda oficial geralmente passam por mais duas semanas de quarentena.


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