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Estado de Minas COVID-19

Europeus são impedidos de prestar última homenagem aos falecidos

Famílias que desistem de ir ao funeral, multas por participar de uma procissão fúnebre e enterros em vídeo. Confinados não podem prestar uma última homenagem aos falecidos


postado em 20/03/2020 04:00

Na capela de Bergamo, na Lombardia, os caixões aguardam o momento de serem encaminhados para o crematório, sem cerimônia fúnebre(foto: Ansa/Stringer/AFP)
Na capela de Bergamo, na Lombardia, os caixões aguardam o momento de serem encaminhados para o crematório, sem cerimônia fúnebre (foto: Ansa/Stringer/AFP)


Novo epicentro do coronavírus no mundo e país que mais registrou mortes pela doença, superando até mesmo a China, a Itália foi o primeiro país da Europa a adotar um confinamento severo da população. Porém, à medida que a situação se agrava, os italianos perderam até o direito de se despedir de seus mortos a partir da suspensão das cerimônias religiosas, incluindo os enterros. Na Sicília, 48 pessoas chegaram a ser multadas por participar de uma procissão fúnebre.

Na quarta-feira, em Bergamo, uma cidade italiana particularmente afetada pelo vírus, os carros funerários aguardavam, em fila, à frente dos portões fechados do cemitério Monumental. “Fechamos o local para que as pessoas não usem o ônibus entre a cidade e o cemitério para uma despedida final de seus entes queridos. Mas reabrimos a câmara funerária e a capela para guardar os muitos caixões”, disse Giorgio Gori, prefeito da cidade.

FRANÇA

Na Europa, a situação não é exclusiva da Itália. “Relutantemente, desisti com minha irmã de ir ao funeral”, explica Emmanuelle Caradec, que vive em Paris e cuja avó morreu em Nantes, a 400 quilômetros da capital. Isso porque, além das restrições de viagem, a França limitou a 20 o número de pessoas que acompanham o falecido no cemitério ou crematório. “O que vou dizer é terrível de ouvir (...) precisamos limitar os deslocamentos o máximo possível e, mesmo sob essa circunstância, não devemos nos desviar da regra”, disse o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe.

Bênçãos rápidas ainda podem ser dadas no cemitério ou no crematório, privadas de um registro de condolências pelas mesmas razões sanitárias, sem mencionar que os participantes não podem se confortar com beijos ou abraços. Também não há exceções para as “estrelas”: a família da cineasta Tonie Marshall, recentemente falecida, teve que desistir de organizar uma missa, assim como a da atriz Suzy Delair.

Todas as religiões estão envolvidas, como o Islã, que tem milhões de seguidores na França. O Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM) convida, por exemplo, a limitar “a cinco o número de pessoas presentes” nos velórios. Para atenuar a dor, empresas como a francesa Advitam oferecem “serviço gratuito de transmissão de vídeo das cerimônias fúnebres para todas as famílias”. Mas essa situação atrapalha inevitavelmente o trabalho essencial do luto.

“Não nego de forma alguma os méritos das medidas, nem a urgência delas, mas não sem consequências humanas. O trauma de certas famílias para quem o evento será transmitido será terrível”, destaca Christian de Cacqueray, funcionário francês do Serviço Funerário Católico. Denis Malvy, especialista em doenças infecciosas e consultor do ministro da Saúde da França, acredita que “serão tomadas medidas para apoiar o luto e as lágrimas”.

“Para um familiar ou amigo, não poder acompanhar o falecido até o fim pode representar um choque duradouro”, confirma a psicóloga Marie-Frédérique Bacqué, professora de psicopatologia da Universidade de Estrasburgo e autora de livros de referência sobre o luto. “A única solução é fazer uma substituição em pensamento. Acender uma vela é o símbolo mais simples e sugestivo, pensar na pessoa que amamos, instalar fotos ou flores. É o melhor enquanto aguarda para visitar o túmulo mais tarde”, sugere Marie.

NÚMERO DE MORTOS

Ontem, a Itália superou a China em número de mortes por coronavírus, com 427 novos falecimentos em 24 horas, o que levou a um total de 3.405, segundo uma contagem baseada em dados oficiais. Assim, a Itália se torna o país com mais mortes por Covid-19, à frente da China (3.245), Irã (1.284) e Espanha (767).

A Itália registrou suas primeiras mortes pela doença em 22 de fevereiro. Há uma semana, o país tinha 1.016 mortos. Esse número triplicou desde então. O país registra 56 mortes para cada milhão de habitantes, em comparação com a Espanha (16 mortes por milhão). A China, por seu lado, tem 2,2 mortes por milhão de habitantes. Mais de dois terços das mortes registradas na Europa desde o início da pandemia ocorreram na Itália. A Lombardia, região que inclui Milão, capital econômica do país, continua sendo a mais afetada, com quase 20 mil casos e 2.168 mortes, seguida por Emilia Romagna (5.214 casos e 531 mortes) e Veneza (3.484 casos e 11 mortes).

E MAIS...

Madri lança app para avaliar sintomas

Epicentro da pandemia de coronavírus na Espanha, a região de Madri lançará um aplicativo que permitirá que os usuários autoavaliem sua saúde e evitem ligar sistematicamente para os call centers. Disponível por enquanto na internet (www.coronamadrid.com), essa ferramenta terá um formato de aplicativo móvel nos próximos dias. “Este aplicativo tem como objetivo ajudar a evitar o colapso das linhas diretas da Comunidade de Madri. Realize essa autoavaliação apenas se sentir sintomas. Vamos ser responsáveis: vamos ajudar nossos profissionais e a saúde pública”, insistem as autoridades na web. O aplicativo oferece um questionário para indicar os sintomas (tosse, febre, dificuldades respiratórias), avaliá-los regularmente e receber as instruções e recomendações adaptadas a cada caso, dependendo do resultado. Também permite geolocalizar o usuário se ele o autorizar, “a fim de organizar melhor os recursos de saúde para obter uma resposta mais ágil e eficaz em cada caso específico”, dizem as autoridades. Madri é a região mais afetada da Espanha, com 65% dos mortos em todo o país (498 em 767) e 40% dos infectados (6.777 em 17.147), de acordo com o balanço de ontem.

Príncipe isolado

O príncipe Albert II, chefe de Estado do Principado do Mônaco, deu positivo para o COVID-19, mas seguirá trabalhando de seu escritório particular. “Seu estado de saúde não inspira preocupação”, anunciou o palácio ontem. “O príncipe Albert II de Mônaco, que foi testado no início desta semana, deu positivo para Covid-19. Seu estado de saúde não causa nenhuma preocupação”, disse o palácio em comunicado três dias após o ministro de Estado, Serge Telle, equivalente a primeiro-ministro, anunciou que havia testado positivo.

Trégua aos ilegais

As autoridades americanas anunciaram que a maioria das prisões e expulsões de imigrantes sem documentos será “temporariamente” suspensa devido à crise de saúde relacionada ao novo coronavírus. O Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) dos Estados Unidos, que no ano passado intensificou seus esforços para deter e deportar imigrantes ilegais, disse que durante esta situação de emergência se limitará a perseguir os estrangeiros que cometeram crimes ou que representem “riscos de segurança pública”. Essa decisão visa coibir a disseminação da COVID-19, e incentivar aqueles que não estão legalizados a consultar um médico caso seja necessário.


Alemanha, a exceção

Com uma quantidade notável de doentes e uma taxa de mortalidade extremamente baixa, a Alemanha representa uma exceção diante da epidemia do novo coronavírus. O país registrou oficialmente 10.999 casos ontem e 20 mortos, o que fez a taxa de letalidade no país ficar em 0,18%, um número muito baixo em comparação com cerca de 4% da China ou Espanha, 2,9% na França ou 8,3% na Itália.
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