Jornal Estado de Minas

Milhares de mulheres vão às ruas do Chile no primeiro 8M após protestos

Centenas de milhares de mulheres foram às ruas do centro de Santiago neste domingo (8) em uma manifestação multitudinária e colorida, na qual exigiram o fim da violência de gênero e lançaram palavras de ordem contra o governo de Sebastián Piñera, quatro meses depois dos protestos que sacudiram o país.



As mulheres se concentraram cedo nos arredores da Praça Itália para depois seguir rumo a região oeste da capital pela avenida Alameda (centro), que teve várias quadras totalmente ocupadas pelas manifestantes que se reuniram em um clima festivo, interrompido apenas por alguns enfrentamentos com a polícia.

Os confrontos se concentraram nas proximidades do palácio presidente de La Moneda, cercado pelos agentes da polícia. Manifestantes derrubaram cercas de segurança e tentaram avançar rumo ao Palácio, sendo repelidos pela polícia com jatos d'água e bombas de gás lacrimogêneo.

Esta é a primeira grande manifestação feminista desde que em 18 de outubro do ano passado eclodiram os protestos sociais no Chile, em manifestações sem precedentes contra o governo de direita de Piñera e a favor de profundas reformas sociais em um país que era considerado um dos mais estáveis da América Latina.



Em frente ao Palácio Presidencial foi estendida uma grande bandeira negra com o lema "Piñera, renuncie", enquanto durante toda a manifestação ouviram-se lemas contra o presidente e a ação da Polícia, deixando em segundo plano os tradicionais gritos feministas.

A polícia contabilizou as manifestantes inicialmente em 110 mil, depois revisou o número para 150 mil pessoas reunidas na capital chilena. Os organizadores estimaram em dois milhões os participantes só em Santiago.

Ao menos quatro quilômetros da Alameda ficaram repletas de manifestantes e muitas ruas vizinhas também estavam cheias de mulheres, segundo a AFP.

"É maravilhoso ver tantas mulheres hoje unidas (...) Adoro que as mulheres ponham seus ovários, se empoderem, caminhem e arrasem tudo", disse à AFP Elizabeth, que foi à passeata com outras mulheres para defender os direitos das mulheres indígenas.



A maioria das mulheres levava lenços verdes a favor do aborto legal ou violetas com o lema "NiUnaMenos" (Nenhuma a menos), em um país em que há apenas três anos promulgou uma lei que permite o abordo em três situações. Até este ano, o Chile era uma das poucas nações que não permitia a interrupção da gravidez sob nenhuma circunstância.

Ao longo do trajeto, a procissão parou várias vezes para a realização em conjunto da performance "Un violador en tu camino" (Um estuprador no teu caminho), popularizada pelo coletivo chileno "Las Tesis".

O hino feminista, que denuncia o "Estado opressor", deu a volta ao mundo com o verso: "a culpa não era minha, nem de onde estava, nem como me vestia".

Ao longo do dia, o presidente Piñera anunciou o envio ao Congresso de dois projetos de lei a favor das mulheres, um que estabelece o monitoramento remoto de homens denunciados por violência doméstica e outro que incorpora os devedores de pensões alimentícias ao boletim de informações comerciais. Atualmente, 84% dos pais processados não pagam a pensão.

No ano passado, a convocação superou 200 mil pessoas e se previa neste domingo uma convocação ainda maior em um ambiente de grande efervescência social em que surgiram os protestos.