Jornal Estado de Minas

Companhias aéreas temem perdas abismais por coronavírus

As companhias aéreas podem perder até 113 bilhões de dólares em receitas em 2020, devido ao impacto do novo coronavírus - estimou a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) nesta quinta-feira (5).

A epidemia de COVID-19 fez sua primeira vítima no setor, a companhia aérea regional britânica Flybe. A empresa anunciou falência, após ter escapado recentemente da quebra graças à ajuda do governo.



"A guinada dos eventos resultante da COVID-19 é quase sem precedentes", disse o chefe da IATA, Alexandre de Juniac, após uma reunião da associação em Singapura.

"Em apenas dois meses, as perspectivas para a indústria na maior parte do mundo pioraram", acrescentou.

A IATA estimou as perdas de receita das companhias aéreas para o transporte de passageiros entre US$ 63 bilhões - se a propagação do vírus for controlada - e até 113 bilhões, se o coronavírus continuar se espalhando.

Essa estimativa não leva em consideração as perdas no transporte de mercadorias. O cenário mais crítico envolve uma redução de 19% na receita global do transporte aéreo de passageiros.

Segundo a organização, "do ponto de vista financeiro, seria equivalente ao que o setor passou durante a crise financeira global".

Mais de 3.200 pessoas no mundo, de 84 países e territórios, morreram devido ao novo coronavírus, e 95.000 pessoas estão contaminadas.



O relatório da IATA foi divulgado horas depois que a Flybe, a maior companhia aérea regional da Europa, anunciou sua falência. Em meados de janeiro, a empresa chegou a receber um incentivo fiscal do governo de Boris Johnson, que concordou em adiar o pagamento de impostos, após outro resgate no ano passado pelo consórcio Connect Airways.

"Todos os aviões estão em terra, e as operações no Reino Unido cessaram com efeito imediato", anunciou a Flybe, exortando seus clientes a não irem aos aeroportos, pois não há voos alternativos.

"O impacto do vírus nas operações da Flybe significa que o consórcio não pode mais se comprometer a continuar com o apoio financeiro", disse um porta-voz da Virgin Atlantic, um dos investidores do consórcio, junto com os fundos Stobarte e Cyrus.

A epidemia de coronavírus causou uma diminuição significativa nos voos em todo mundo, o que levou várias companhias aéreas, como a Lufthansa e a Air France, a reduzirem significativamente seu tráfego.

A Flybe já sofria sérias dificuldades financeiras. Em um comunicado, Stobart disse que injetou mais de 135 milhões de libras na companhia aérea nos últimos 14 meses.



Essa companhia aérea, que empregava cerca de 2.400 pessoas e estava sediada em Exeter, sudoeste da Inglaterra, transportava cerca de oito milhões de passageiros por ano.

É a última grande falência do setor de transportes britânico, depois da Monarch, em 2017, e da operadora de turismo Thomas Cook, em 2019.

Devido à importância da Flybe no transporte regional britânico, sendo a única companhia a operar em alguns pequenos aeroportos do norte da Inglaterra, em janeiro o governo Johnson violou seu princípio de não interferir nos negócios de empresas privadas.

No entanto, após o anúncio deste resgate, os concorrentes da Flybe, Ryanair e IAG - de propriedade da Iberia e da British Airways - protestaram contra o que consideravam subsídios ilegais e danosos à concorrência.

"O Reino Unido perdeu um de seus maiores ativos regionais", lamentou o presidente da Flybe, Mark Anderson.

A economia britânica, que já sofre com o Brexit e com o novo coronavírus, "depende fortemente de uma companhia aérea regional viável", afirmou o sindicato Unite.

Durante a campanha para as legislativas de dezembro, Johnson fez do reequilíbrio econômico entre Londres e o norte do país uma de suas principais promessas.

Diante do agravamento das finanças da Flybe, porém, o Executivo optou por desistir e já estuda como restabelecer os serviços cancelados.