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Estado de Minas

Crianças com câncer aguardam no limbo diante da nova falta de medicamentos no México


postado em 17/02/2020 18:01

Dhana tem apenas cinco anos e em sua curta expectativa de vida a falta de medicamentos para combater a sua leucemia linfoblástica aguda é algo constante.

Primeiro na clínica estatal em sua cidade natal, Chiapas, e agora no Hospital Infantil Federico Gómez, na Cidade do México, onde há meses faz sessões de quimioterapia intermitentes há meses. Faltaram remédios em setembro e outurbo de 2018, assim como em fevereiro e agosto de 2019.

Segundo o governo mexicano, a falta de medicamentos é em parte resultado do combate à corrupção organizado pelo presidente Andrés Manuel López Obrador para evitar o desvio de recursos da Saúde do país.

A isso acrescentou-se a falta de insumos estrangeiros para produzir os remédios e a decisão das autoridades sanitárias de fechar ao menos sete fábricas da mais importante distribuidora de metotrexato, um dos medicamentos usados no tratamento do câncer.

Ainda que o governo tenha prometido resolver o problema do desabastecimento, isso ainda não ocorreu.

"O novo governo se comprometeu a não deixar que as interrupções aos tratamentos voltassem a acontecer. E isso não foi cumprido", explica o pai de Dhana à AFP, Israel Rivas. Em janeiro começou uma nova crise e "não aconteceu sequer uma sessão de quimioterapia", conta.

Desde então, pais que lutam contra o tempo para preservar a saúde dos seus filhos começaram a entrar em contato com Rivas para relatar a escassez que há em hospitais por todo o país.

Diariamente ele recebe mensagens vindas de Tijuana, Oaxaca, Puebla, Mérida, Guadalajara, Minatitlán, Acapulco, entre outras cidades.

Fora da Cidade do México a situação piora: os remédios deixaram totalmente de ser administrados ou têm que ser divididos entre vários pacientes para que, ao menos, não interrompam o seu tratamento.

Para Crisanto Flores, pai de Cristal - uma paciente de três anos que sofre de um câncer que afeta os olhos -, cortar sua medicação não é uma opção. Há pouco mais de um ano, e com poucos recursos, ele se mudou para o Estado do México para que sua única filha fosse atendida na capital do país.

O câncer já resultou na perda de um dos olhos de Cristal, e Flores não permitirá que a falta de medicamentos a faça perder mais nada.

Segundo dados da Secretaria de Saúde, o México registra anualmente sete mil novos casos de câncer infantil. Caso obtenham o tratamento correto a tempo, cerca de 57,5% deles consegue sobreviver.

Aos quatro anos, Hermes Soto está a dois meses de vencer o câncer, e por isso sua mãe, Esperanza Paz, pede que nesse período não faltem medicamentos para que possa finalizar esse pesadelo.

"Faltam apenas três sessões de quimioterapia. Na segunda-feira, fará a antepenúltima sessão", comenta.

- "O câncer não espera" -

Emmanuel García, na Baixa Califórnia, e Alejandro Barbosa, em Jalisco, vivem a mais de 1.900 quilômetros de distância um do outro, embora ambos tenham uma missão em comum: conseguir remédios para as crianças dos seus respectivos estados.

"O câncer não espera ninguém", alerta García.

"Compramos os medicamentos a distribuidoras certificadas pelo governo que os trazem do exterior e não saem tão caros", explica Barbosa, membro do grupo de palhaços do hospital.

O custo da vincristina, uma das substâncias mais usadas nas quimioterapias, disparou por causa da escassez. Em menos de um ano, aumentou mais de 400%, passando de cerca de US$ 24 para mais de US$ 2.220.

- Escassez sem fim -

Um coletivo de pais de crianças com câncer fechou no último 22 de janeiro o acesso ao aeroporto da Cidade do México, o maior do país, como forma de pressionar o governo para que fornecessem a medicação necessária para o tratamento dos seus filhos.

Um dia depois, López Obrador culpou o antigo modelo governamental de compras, que segundo ele, estava imerso em corrupção.

"Não há (falta de medicamentos) no caso das crianças com câncer e nunca haverá (...) ainda que tenhamos que comprar de outros países do mundo, temos orçamento suficiente", prometeu o presidente mexicano.

Três semanas depois, a promessa não foi cumprida em Mérida, capital do estado de Yucatán. Flor González, mãe de uma crinça com câncer, conta que há seis meses começaram a faltar "alguns medicamentos", mas em fevereiro o número aumentou para cerca de 12 remédios em falta.

"O tratamento oncológico das crianças tem cerca de três a cinco medicamentos. Elas praticamente usam o que há", explica.

Diante desses problemas, o governo do México se comprometeu para que ainda nesta semana a crise dos medicamentos chegasse ao fim. Os pais das crianças, no entanto, desconfiam dessa promessa, já que em outras duas ocasiões lhes informou o mesmo.

"Vamos dar o último voto de confiança", afirma Israel Rivas, que ressalta que caso a promessa não seja cumprida continuará protestando por todo o país.

No México existem mais de 26,4 milhões de crianças sem acesso aos planos de saúde. Esses menores recebem tratamentos através de programas governamentais.

Por isso, pais com crianças que recebem quimioterapia, como Rivas, Flores, González e Paz, exigem que o governo não somente garanta a medicação necessária, mas que a falta não seja recorrente.


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