(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Tailândia abriga 97 km do rio Mekong, cobiçado pela China


postado em 16/01/2020 11:19

No norte da Tailândia, 97 quilômetros das águas barrentas do Mekong despertam o apetite da China, que pretende assumir o controle deste trecho do rio, vital para milhões de pessoas, e estabelecer sua presença no Sudeste Asiático.

A China quer dragar esta parte do rio para permitir que naveguem ali grandes cargueiros e eventuais navios de guerra.

Considerado estratégico, o local permitiria a Pequim conectar a província chinesa de Yunan e, depois de atravessar Mianmar, Tailândia, Laos, Camboja e Vietnã, chegar às disputadas águas do Mar da China meridional.

Com o slogan "Rio compartilhado, futuro compartilhado", o gigante asiático se defende de qualquer aspiração expansionista e garante que as grandes intervenções têm como único objetivo o desenvolvimento sustentável do Mekong e que os ganhos sejam distribuídos entre os cinco países que o compartilham.

Mas a marca da China e, sobretudo, as muitas represas que constrói, já transformaram profundamente a fisionomia do rio.

Dele dependem 60 milhões de pessoas, mas, hoje, suas águas atingiram níveis anormalmente baixos em alguns lugares. Além disso, as terras ricas em nutrientes do delta do Vietnã não param de empobrecer, a quantidade de peixes diminuiu drasticamente, e as espécies endêmicas, como o peixe-gato-gigante, estão em vias de extinção.

- Km 1, no centro do "Triângulo de ouro"

Na cidade tailandesa de Sop Ruak (nordeste), os turistas tiram selfies em frente a um cartaz que marca o acesso ao "Triângulo de ouro", centro do narcotráfico entre Mianmar, Laos e Tailândia. Ao fundo, rochas e bancos de areia formam o leito do Mekong.

É aqui que a China pretende realizar a primeira dragagem do rio, um dos 15 pontos ao longo dos 97 quilômetros para permitir a passagem de embarcações de transporte de mercadorias com mais de 500 toneladas.

As margens se tornariam uma "zona econômica especial", com portos, conexões ferroviárias e rodovias.

"Com o tempo, querem transformar o Mekong em uma via para fretes", lamenta Pianporn Deetes, da ONG International Rivers, em conversa com a AFP.

No momento, contudo, os projetos de Pequim estão no ar.

Após cerca de 20 anos de batalha, os militantes ambientalistas tailandeses conseguiram suspender em março o projeto de dragagem dos 15 pontos, temendo que destrua ainda mais o ecossistema.

Os ambientalistas temem que seja uma conquista provisória, já que a oposição raramente costuma sair vitoriosa ante as ambições do gigante que considera o Sudeste Asiático seu quintal.

Pequim já impôs sua presença em alguns trechos do rio no Camboja e no Laos, dois países aliados nos quais injetou bilhões de dólares em investimentos.

- Km 10, péssima pesca -

"Hoje joguei duas vezes as redes e não pesquei nada", lamenta Kome Wilai, que mora a uma dezena de quilômetros rio abaixo de Sop Ruak. Aqui, o nível do Mekong pode baixar entre 1,5 e 3 metros de repente.

Os pescadores culpam a represa de Jinghong, uma das 11 operadas pela China no Mekong.

"Quando fecham as comportas da represa, afeta todo o mundo ao longo do rio", lamenta Prasong La-on, chefe distrital.

Com o controle da vazão, Pequim tem uma forma de pressão considerável.

A embaixada da China em Bangcoc assegura que o país não retém a água e "leva muito em conta" as necessidades dos moradores.

"A China controla apenas 12% das águas do Mekong", afirma a China Water Risk, uma ONG sediada em Hong Kong, que responsabiliza outros países que também construíram represas, em particular o Laos.

Este pequeno país ambiciosa se tornar a bateria do Sudeste Asiático e permitiu a construção de dezenas de estruturas hidrelétricas no Mekong e em seus afluentes.

- Km 45, reprodução -

Na cidade tailandesa de Khon Pi Long, fica "a zona de reprodução de peixes e aves", destaca Niwat Roikaew, um ativista que lidera os protestos contra a dragagem no Mekong.

"Este ecossistema-chave é transitório. Mas, agora, os níveis do rio dependem da abertura das comportas da represa", o que "não pode funcionar", lamenta.

Quanto às algas, alimento preferido dos peixes-gato-gigantes, são cada vez menos abundantes e crescem mais tarde.

Esta situação pode ter consequências devastadoras em várias centenas de quilômetros rio abaixo.

O lago Tonlé Sap, no Camboja, vinculado ao Mekong, já foi afetado. A imensa reserva representa a principal fonte de proteínas do país. Nele, pesca-se meio milhão de tonelada de peixes por ano, segundo Bryan Eyler, autor de "Last Days of the Mighty Mekong" ("Os últimos dias do imponente Mekong", em tradução livre).

No Vietnã, o delta do rio está cada vez mais ameaçado pela salinização, e os sedimentos bloqueados pelas represas rio acima não impedem que a água do mar escoe.

- Km 97, resistência -

Em Huai Lek, uma última barreira de rochas bloqueia as aspirações de Pequim.

Thongsuk Inthavong, ex-chefe do povoado, observa na margem em frente ao Laos pequenos terrenos vendidos um a um a investidores chineses para serem transformados em grandes plantações de banana.

Pequim, que também tenta comprar terras do lado tailandês, encontra uma resistência aqui.

"A China joga conosco como um brinquedo", diz Thongsuk. "Isto me irrita, mas defenderemos nosso rio", frisou.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)