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Estado de Minas

Carlos Ghosn, o ex-magnata cheio de surpresas


postado em 31/12/2019 12:07

O ex-magnata Carlos Ghosn, outrora venerado CEO de três grandes companhias automotivas, surpreendeu ao conseguir deixar o Japão, onde se encontrava sob prisão domiciliar por supostos crimes financeiros.

Este franco-libanês-brasileiro desembarcou no fim da década de 1990 no Japão, onde transformou hábitos em termos de gestão empresarial, surpreendendo e impactando ao mesmo tempo.

Mas rapidamente se converteu no menino mimado pelos meios de comunicação e editores do país por ter melhorado a Nissan, joia automotiva japonesa, no começo dos anos 2000.

Quase duas décadas depois, em 19 de novembro de 2018, este poliglota que se tornou chefe da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi Motors caiu do pedestal.

Ele foi preso de surpresa, mas em frente às câmeras, quando saía do avião privado da Nissan em uma pista de um aeroporto de Tóquio. Ele foi acusado de ocultamento de receita das autoridades da bolsa.

Desonrado pela ganância, de acordo com seus críticos, ou vítima de uma trama criada pela Nissan, segundo ele, esse todo-poderoso empresário foi removido de todas as acusações.

Da prisão, onde passou 130 dias no total, ele concedeu uma entrevista à AFP no final de janeiro, na qual atacou a recusa de aceitar fiança o que, segundo ele, não teria acontecido "em nenhuma outra democracia".

Desde o fim de abril, ele estava em liberdade condicional. Entre as condições estava não falar com sua esposa, Carole - algo permitido apenas uma vez, recentemente.

Antes de tudo isso, Ghosn era considerado a encarnação da globalização.

- 'Inflexível' -

"Passei minha juventude e meus anos de ensino médio no Líbano antes de estudar na França, onde obtive nacionalidade. Também morei nos Estados Unidos por muitos anos" Tudo isso aconteceu antes de sua carreira levá-lo ao Japão, "este país incrível", disse ele em um artigo autobiográfico publicado pelo jornal Nikkei, a bíblia do mundo financeiro japonês.

Nascido em 9 de março de 1954 em Porto Velho, Brasil, Carlos Ghosn Bichara cresceu no Líbano, em um ambiente multicultural, estudando em colégio jesuíta. Ele era descrito como "um estudante rebelde".

"Eu tinha tanta energia que sempre procurava maneiras de gastá-la", explicou.

Já na França, ele ingressou na prestigiada escola de engenharia politécnica aos 20 anos.

Quatro anos depois, o jovem formado foi contratado pela fabricante de pneus Michelin, onde foi apelidado de "cost killer" ("assassino de custos", antes de entrar na Renault em 1996. Em 1999, o grupo francês procura um sócio, que será a Nissan.

"Me preocupava respeitar as tradições da cultura japonesa. (...) Mas estava ali com um propósito: levantar novamente a companhia", que acumulava prejuízos.

O líder "inflexível", viciado em trabalho, exigiu muitos sacrifícios (fechamento de cinco fábricas, abolição de 20.000 empregos). Depois de "uma lua de mel", quando ele era visto como um herói, seu autoritarismo começou a incomodar, segundo funcionários do grupo.

As frustrações aumentaram quando ele se tornou presidente executivo da Renault em 2005, um acúmulo sem precedentes na lista da Fortune de mais de 500 das principais empresas do mundo.

- 'O que farei a seguir?' -

Em 2017, ele somou um terceiro cargo, de presidente do conselho administrativo da Mitsubishi Motors, sinônimo de renda suplementar para quem já ganhava milhões de euros por ano. Era, segundo ele, o que seu trabalho valia, que valia por ser cortejado por outros grandes fabricantes com salários ainda mais altos.

Durante sua ascensão, dessa concentração de poderes que talvez tenha causado sua perda, esse capitão industrial fez "amigos nas altas esferas", explicou ele a Nikkei. Além de Davos, ele gostava de ir ao Festival de Cannes.

No Brasil, ele teve a honra de carregar a chama olímpica por ocasião das Olimpíadas do Rio. E o Líbano tem um selo carimbado com sua efígie.

"O que farei a seguir?", escreveu Ghosn em 2017. "Passar algum tempo com meus filhos e netos, ensina, aconselhar outras empresas, instituições e organizações", destacou.

Mas "a vida às vezes segue caminhos inesperados", comentou. Desde 30 de dezembro, ele está no Líbano.


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