Faltam duas semanas para as eleições presidenciais em Taiwan, e a atual mandatária, Tsai Ing-wen, alvo de críticas de Pequim, está cada dia mais popular graças às ameaças chinesas e à crise em Hong Kong.
Poucos teriam apostado neste cenário há um ano, quando o Kumintang (KMT, de oposição) - com uma linha muito mais complacente com a China - alcançou um sucesso significativo nas eleições locais.
Os eleitores votarão em 11 de janeiro, após uma campanha dominada pela questão das relações com Pequim e que se endureceu desde a chegada de Tsai, de 63 anos, ao poder em 2013.
"O sentimento anti-China se tornou um fator crucial nas pesquisas", explica Wang Yeh-lih, cientista político na Universidade Nacional de Taiwan, que destaca o sucesso do slogan da presidente: "Resistir ante a China, defender Taiwan".
Tsai se recusa a reconhecer o princípio de unidade da ilha e de continuar em uma mesma China, como Pequim pede.
A República Popular da China considera Taiwan uma de suas províncias. Mas o território está dirigido por um regime rival desde 1949.
- 'Candidato pró-Pequim' -
Tsai integra o Partido Progressista Democrático (PDP), uma formação que tradicionalmente defende a independência.
A presidente terá como principal adversário Han Kuo-yu, candidato do KMT, movimento que defende uma aproximação pragmática com a China.
"O grupo de Tsai classificou Han como um candidato pró-Pequim e insistiu diante dos eleitores que o que acontece hoje em Hong Kong pode ocorrer amanhã em Taiwan", explica Wang.
Os taiwaneses veem com preocupação a crise que atravessa a ex-colônia britânica, e a recusa de Pequim a ceder às petições dos manifestantes pró-democracia.
A China propone conceder a Taiwan, caso abra mão de suas pretensões, as mesmas liberdades que oferece a Hong Kong devido ao princípio "Um país, dois sistemas".
Mas os confrontos recorrentes entre policiais e manifestantes em Hong Kong não fizeram mais que reforçar o ceticismo dos taiwaneses em relação às propostas de Pequim.
Esse sentimento foi capitalizado Tsai. "Dado o que ocorre em Hong Kong, qual será a opção dos taiwaneses?", afirmou há alguns dias em um comício.
A maioria das pesquisas garantem sua vitória, com entre 35% e 50% das intenções de voto, contra entre 15% e 30% de seu rival.
Essas projeções são muito diferentes do esperado há um ano, quando o PDP sofreu uma grande derrota nas eleições locais.
"Inverter a tendência em menos de um mês será difícil", afirmou à AFP William Niu, cientista político na Universidade da Cultura Chinesa de Taipei.