Jornal Estado de Minas

Presidente ucraniano espera troca de prisioneiros com separatistas no domingo

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, declarou neste sábado (28) que espera uma troca de prisioneiros no domingo (29) entre Kiev e os separatistas pró-russos do leste de Ucrânia, o que, se confirmado, significará um novo passo em direção à resolução do único conflito armado ativo na Europa.



"A troca deve acontecer amanhã. Assim esperamos. Por agora, a identificação de todas as pessoas não terminou", informou Zelenski aos jornalistas.

Horas antes, os separatistas pró-Rússia anunciaram a troca de prisioneiros com Kiev.

"Kiev e Donbas chegaram a um acordo sobre uma troca de prisioneiros no domingo, 29 de dezembro", disse Daria Morozova, porta-voz dos separatistas, em comunicado.

Segundo a responsável, as duas repúblicas autoproclamadas de Donetsk e Lugansk, no leste do país, receberão 87 prisioneiros e Kiev, 55. A porta-voz não forneceu nenhuma informação adicional sobre a identidade dos detidos.

As autoridades de Kiev não reagiram a este anúncio até o momento. "Não comentamos esse tipo de informação", respondeu um porta-voz.

A imprensa russa explicou que a troca ocorrerá na linha de frente.

Essa troca é preparada desde a reunião realizada em Paris, no início do mês, entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o ucraniano, Volodimir Zelenski, com a presença de líderes franceses e alemães.



Foi a primeira vez que Zelenski se encontrou pessoalmente com Putin. O novo chefe de Estado ucraniano tem conduzido uma flexibilização de sua política em relação à Rússia, especialmente no que diz respeito ao conflito no leste do país.

Em setembro, Kiev e Moscou trocaram 70 detidos, incluindo um rosto conhecido, o cineasta ucraniano Oleg Sentsov, libertado por Moscou.

Além disso, os dois lados recuaram em três pontos da linha da frente e outros recuos devem ocorrer antes do final de março.

Finalmente, Moscou devolveu vários navios de guerra ucranianos apreendidos.

- Visões irreconciliáveis -

A Ucrânia acusa Moscou de financiar e armar os rebeldes, algo que a Rússia nega, argumentando que seu papel é humanitário e político e consiste em proteger as populações locais nas zonas de língua russa.

O conflito no leste da Ucrânia já deixou 13.000 mortos desde 2014. A assinatura dos acordos de paz de Minsk, em 2014 e 2015, encerrou os violentos combates, mas o cessar-fogo previsto nunca foi aplicado e os confrontos armados são quase diários.

Ao mesmo tempo, não houve progresso no sentido de um acordo político para acabar com o conflito. Na reunião de Paris, no início de dezembro, também não foram feitos avanços, como a retirada de armas pesadas, a restauração do controle de Kiev sobre a fronteira com a Rússia, maior autonomia para os territórios separatistas ou a organização de eleições nesses locais.



Nos dois lados, as posições parecem irreconciliáveis em alguns pontos.

Zelenski descartou, por exemplo, qualquer eleição ou aumento de autonomia enquanto houver grupos armados "ilegalmente" no território ucraniano.

Durante a reunião de Paris, Putin enviou uma mensagem de apoio aos rebeldes, descartando o plano de devolver o controle da zona de fronteira a Kiev. "Imagino o que poderia acontecer nesse caso. Sebrenica!", lançou o presidente russo, referindo-se ao massacre de 8.000 pessoas por sérvios da Bósnia em 1995.

Depois que um movimento de revolta expulsou do poder um presidente pró-russo na Ucrânia, a Rússia anexou a península da Crimeia em 2014.

Posteriormente, militantes separatistas ocuparam prédios administrativos em várias cidades no leste da Ucrânia e proclamaram a independência das repúblicas populares de Donetsk e Lugansk.

Depois veio a guerra e a contra-ofensiva de Kiev.

Para a comunidade internacional, a situação é muito clara: Moscou armou e financiou esses separatistas para enfraquecer um vizinho que se abriu para o Ocidente.