Jornal Estado de Minas

Iraque continua sem primeiro-ministro a pouca horas do fim do prazo constitucional

Os partidos políticos iraquianos permaneciam sem acordo nesta quarta-feira sobre um candidato ao cargo de primeiro-ministro, pouco mais de 24 horas após o prazo constitucional definido pelo presidente Barham Saleh para ser apresentado um sucessor.



O ex-titular do cargo, Adel Abdel Mahdi, caiu após dois meses de uma revolta sem precedentes contra toda a classe política que deixou mais de 450 mortos e que continua a mobilizar a população apesar da repressão.

Por semanas, toda vez que um nome surgia como possível sucessor, o retrato do político em questão aparecia pichado na praça Tahrir em Bagdá, principal palco das manifestações.

Os manifestantes exigem uma revisão completa do sistema político instalado em 2003 após a queda de Saddam Hussein e uma renovação da classe política, considerada por eles como corrupta e incompetente.

No momento, três homens aparecem como mais indicados ao cargo após várias reuniões de líderes partidários e chefes de grupos parlamentares.

Qusai al Suheil, ministro interino do Ensino Superior, foi apresentado por várias semanas por muitas autoridades como o candidato do Irã, o vizinho influente cujo poderoso emissário, o general Qasem Soleimani, acompanha de perto as negociações.

Suheil, um ex-líder do movimento xiita Moqtada Sadr, integrava o bloco "Estado de Direito" do ex-primeiro-ministro Nuri al Maliki, próximo ao Irã e um grande adversário do Moqtada Sadr.



Outro nome ventilado é o de Mohamed al Sudani, de 49 anos, ex-ministro e ex-governador de uma província do sul, hoje cenário de frequentes manifestações.

No entanto, segundo fontes da cidade sagrada de Najaf, o grande aiatolá Ali Sistani, figura de destaque na política iraquiana, recusou-se a receber Mohamed al Sudani quando, há alguns dias, o ex-ministro tentou obter seu apoio.

O grande aiatolá, de 89 anos e mais alta autoridade religiosa da maioria dos xiitas no Iraque, já anunciou que, pela primeira vez, não quer se envolver na formação do próximo governo.

O terceiro nome mencionado para liderar o país é do chefe da inteligência iraquiana Mustafa al Kazimi, que muitos classificam como o "homem dos Estados Unidos".

Formalmente, é a "maior coalizão" do Parlamento que deve propor o candidato ao presidente, que depois encaminha a indicação para a aprovação dos deputados. Mas até agora, nem o presidente nem o Parlamento identificaram qual é a maior coalizão para esta votação.

E se o Parlamento recusar dar o voto de confiança ao candidato cujo nome surgiu após negociações entre as partes, o presidente tem o direito constitucional de nomear um primeiro-ministro sem ter que submetê-lo aos legisladores.

Outro cenário possível é que o cargo permaneça vago até meia-noite da quinta-feira, quando o presidente Barham Saleh também poderá assumir essa função.