Jornal Estado de Minas

Irlanda do Norte inicia novo diálogo para romper bloqueio político

Após a vitória conservadora nas eleições do Reino Unido, sindicalistas e republicanos da Irlanda do Norte retornam à mesa de negociações nesta segunda-feira para tentar acabar com o bloqueio político que privou esta província britânica de governo por quase três anos.



O governo deve ser compartilhado entre os sindicalistas do DUP e os republicanos do Sinn Fein, conforme estipulado no Acordo de Paz de Sexta-feira Santa, que pôs fim em 1998 a trinta anos de violência interreligiosa na região.

A Irlanda do Norte não tem governo desde que a coalizão fraturou em janeiro de 2017, após um escândalo político-financeiro.

As diferentes rodadas de negociações não superaram o bloqueio, mas as eleições de quinta-feira no Reino Unido mudaram o contexto político e a correlação de forças, dando um novo impulso às discussões planejadas para esta segunda-feira.

A aliança DUP de 2017 com o Partido Conservador da então primeira-ministra Theresa May, que não tinha maioria no parlamento britânico, não facilitou o acordo.

A formação sindicalista concentrou-se em Westminster, influenciando bastante as negociações do Brexit.

Também bloqueou os dois acordos sucessivos de saída da União Europeia (UE), opondo-se às modalidades que tentavam evitar o estabelecimento de uma fronteira física entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda, membro da UE.



- Nova correlação de forças -

As eleições legislativas de quinta-feira mudaram completamente o cenário. A esmagadora vitória do primeiro-ministro conservador Boris Johnson o liberta de qualquer aliança para realizar o Brexit em 31 de janeiro.

"O único aspecto positivo da vitória de Boris Johnson é a possibilidade de o DUP deixar de ficar obcecado com o melodrama que ocorre em Westminster e, finalmente, concentrar sua atenção no que está acontecendo aqui", disse a líder do Sinn Fein, Mary Lou McDonald, à televisão irlandesa.

Pela primeira vez, a província escolheu para o Parlamento britânico mais deputados republicanos em favor de uma reunificação com a Irlanda do que sindicalistas.

"Recebemos a mensagem daqueles que decidiram não nos apoiar", tuitou Arlene Foster, chefe do DUP, que perdeu duas cadeiras nas legislativas.

"Eu sei que eles querem que a Irlanda do Norte avance com um novo governo. Retomaremos as negociações a esse respeito na segunda-feira".

A nova correlação de forças em nível nacional "incentivará o DUP a chegar a um acordo com Sinn Fein" para formar uma nova coalizão governamental, confirma o cientista político Jamie Pow, da Queen's University Belfast.

Segundo ele, os sindicalistas terão que "mostrar aos eleitores" que podem resolver esse problema se quiserem "permanecer considerados competentes".