Um grupo de especialistas internacionais que participariam na investigação sobre a violência policial contra os manifestantes pró-democracia em Hong Kong anunciou nesta quarta-feira sua renúncia diante da impossibilidade de trabalhar livremente, o que significa um revés para o executivo pró-chinês.
No mês passado, os especialistas, eleitos pelo governo de Hong Kong redigiram um comunicado, que não publicaram, mas que foi veiculado pela mídia. No texto, eles denunciaram o problema de sua falta de independência.
Eles também afirmaram que para obter uma investigação confiável é preciso um organismo totalmente independente da polícia e não a Autoridade de Supervisão da Polícia de Hong Kong (IPCC), que era a encarregada.
Finalmente, nesta quarta-feira, os especialistas anunciaram que sua colaboração com a IPCC não prosperou.
"Consequentemente, o grupo independente de especialistas [Independent Expert Panel, IEP] decidiu renunciar oficialmente", informou o comunicado.
"Chegamos à conclusão de que há grandes lacunas patentes nas capacidades e nas possibilidades de investigar de maneira independente do IPCC", escrevem em sua carta.
O analista político Ma Ngok disse que a decisão desses especialistas confirma as dúvidas dos habitantes de Hong Kong sobre a capacidade da IPCC para esclarecer o que está acontecendo nas ruas.
"A estratégia do governo de fazer crer que estava realizando um relatório independente graças a esses especialistas estrangeiros fracassou", disse Ngok à AFP.
- Reivindicação das ruas -
A investigação sobre a atuação da polícia se tornou uma das principais reivindicações do movimento pró-democracia, que há seis meses protesta nesse território chinês semiautônomo.
O executivo de Hong Kong, dirigido por Carrie Lam, sempre rejeitou essa demanda.
O grupo de investigadores é presidido por Dennis O'Connor, um ex-magistrado especialista do direito de manutenção da ordem, e incluía especialistas de outros países como Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia.
Em dezembro, o diretor do IPCC, Anthony Neoh, criticou os especialistas da mídia chinesa, considerando que "não entendiam a situação em Hong Kong".
Segundo seus críticos, o IPCC não tem o poder de investigação necessário, aceita as estatísticas da polícia sem questioná-las e não é capaz de questionar as forças de segurança.
O organismo pode tratar somente das queixas transmitidas pela própria polícia e não pode convocar testemunhas nem pedir a um juiz que obtenha documentos que não tenham sido transmitidos antes.
Segundo os especialistas, as restrições "não permitem responder às expectativas dos cidadãos de Hong Kong". A população precisa de "um organismo encarregado de supervisionar um policial que opere em uma sociedade que aprecia as liberdades e os direitos".
O movimento pró-democracia, que na segunda-feira entrou em seu sexto mês, começou com os protestos contra um projeto de lei que autorizaria as extradições para a China continental.
O texto foi enterrado, mas os manifestantes ampliaram suas reivindicações para pedir mais democracia.