O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, classificou nesta terça-feira (3) como "muito ofensivas" as críticas feitas contra a Otan pelo francês Emmanuel Macron, mostrando as diferenças de uma aliança que olha desconfiada para a Rússia e a China.
"Minha declaração (sobre a 'morte cerebral' da Otan) provocou a reação de muitas pessoas, mas eu mantenho essas palavras", disse o presidente francês numa entrevista ao lado de, Donald Trump, que descreveu essas afirmações como "muito ofensivas".
Com suas declarações polêmicas, presidente da França tentou sacudir a cúpula da Otan, que começa nesta terça-feira em Londres, depois que o pedido de Trump por mais gastos militares para seus parceiros foi o tema central dos encontros anteriores.
Diante do presidente dos Estados Unidos, Macron disse que a Aliança, nascida dos escombros da Segunda Guerra Mundial para enfrentar a vizinha União Soviética na Europa, não é "apenas dinheiro".
A França defende uma reforma na estratégia da Otan, em um contexto de crescimento militar da China e ataques de grupos extremistas, razão pela qual Paris está preocupada com a ofensiva da Turquia no norte da Síria.
Macron afirmou que a Turquia deveria combater as milícias curdas das Unidades de Proteção Popular (YPG), chave na luta contra o grupo radical Estado Islâmico, mesmo considerando que Ancara trabalha "às vezes" com seus "intermediários".
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, criticou a visão de Macron no passado e, antes de viajar para Londres, anunciou que vetaria as decisões da Otan, desde que o YPG não seja reconhecido como "terrorista".
Numa reunião, com a presença do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e a chanceler alemã, Angela Merkel, Erdogan e Macron concordaram que a prioridade é lutar contra o EI.
Mas "nem todos os esclarecimentos foram obtidos nem todas as ambiguidades foram resolvidas", disse Macron, para quem não se deve "misturar as situações" em relação aos grupos terroristas.
- Investimentos "morosos" -
Após as reuniões bilaterais, à noite será realizada a recepção oficial da rainha Elizabeth II. Boris Johnson também vai promover um evento social para os 29 líderes da Aliança, no penúltimo dia do encontro.
O último dia, no qual será apresentado um documento para lembrar os sucessos da Otan, deve ser o mais agitado, com Trump aumentando novamente a pressão sobre aliados que não gastam o suficiente.
O presidente dos Estados Unidos, o primeiro poder da Otan e cujos gastos militares nacionais atingiram 3,30% do PIB em 2018, elogiou os esforços dos aliados para aumentar os repasses para o organismo.
Mas, em sua opinião, os processos para aumento nos investimentos estão "morosos". Segundo dados da Aliança, apenas nove de seus 29 membros atingiram 2% do PIB este ano em gastos militares, meta prometida para até 2024.
O dirigente americano apontou como exemplo o caso da primeira economia europeia, a Alemanha, que vai atingir 1,38% do PIB em 2019 e aqueles com menos gastos, em referência ao Luxemburgo (0,56%) e Espanha (0,92% ).
Apesar de suas críticas e da disputa comercial em relação imposto francês sobre o setor digital, Trump adotou uma postura mais conciliatória com Macron sobre a estratégia da Otan.
- China no retrovisor -
Trump defendeu examinar, por exemplo, desafios como "o enorme crescimento da China", chave para a Rússia e os Estados Unidos, deixando um tratado fundamental da Guerra Fria sobre armas nucleares.
"Acabamos com o tratado INF porque a outra parte [Moscou] não vai aderir a ele, mas quer firmar um acordo e nós também", disse Trump, considerando possível "conseguir uma solução" para as armas nucleares.
Macron também pediu, nesse contexto, de "diálogo estratégico", mas sem "ingenuidade" com a Rússia, o principal foco de preocupação dos países bálticos desde o início do conflito na Ucrânia em 2014.
O presidente russo, Vladimir Putin, disse pouco antes estar disposto a "cooperar" em questões como "terrorismo" ou "o perigo da proliferação de armas de destruição em massa", apesar do comportamento dos aliados.
Na quarta-feira, os líderes terão sobre a mesa as propostas de Paris e Berlim para iniciar uma reflexão sobre o futuro da Otan e devem confirmar sua aposta no espaço, entre outras decisões.
O secretário-geral da Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg, criticou as declarações francesas sobre a entidade ao afirmar que "a Aliança é ativa, ágil e efetiva".