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Estado de Minas

Bola de Ouro 2019 decepciona fãs africanos de Sadio Mané


postado em 03/12/2019 17:19

A entrega da Bola de Ouro 2019 deixou um gosto amargo entre torcedores no Senegal onde a avaliação feita é a de que Sadio Mané, quarto colocado, pode ter pagado o preço por sua discrição, pela dispersão dos votos e, alguns vão além, pela cor de sua pele.

"Estou decepcionado. Sadio trabalhou melhor que os outros", diz Alcides Delgado, empresário senegalês de 53 anos, após a entrega do troféu a Lionel Messi superando dois astros africanos do Liverpool: o senegalês Mané, que ficou em quarto lugar, e o egípcio Mohamed Salah, em quinto.

No início de novembro o ex-atacante camaronês Samuel Eto'o lamentou o fato de que os jogadores africanos "nem sempre são apreciados pelo seu valor justo". O liberiano George Weah vai continuar sendo, por mais um ano, o único jogador africano a ter conquistado o troféu, em 1995.

No Bazoff, bar-restaurante chique de Dacar, cerca de cinquenta fãs incondicionais de Mané, usando bonés e camisetas com a imagem do craque nascido na região de Casamansa, se encontraram para acompanhar a transmissão da cerimônia.

"Ele está no Top 4, já é histórico. Desde Weah, só tivemos Drogba, quarto em 2007", lembra Moustapha Sadio, jornalista da rede de rádio e televisão senegalesa RTS.

- 'Modéstia demais' -

Alguns minutos depois é divulgada a classificação final: Mané fica atrás de Messi, Virgil van Dijk e Cristiano Ronaldo. O resultado é recebido com alguns suspiros de decepção, mas também com aplausos de fãs que visivelmente não alimentavam muitas ilusões.

Ainda assim, sua relegação ao segundo plano, apesar do título do Liverpool na Liga dos Campeões e de uma final da Copa Africana de Nações com a seleção de Senegal, continua sendo "muito difícil de explicar", diz Moustapha Sadio. "Há uma desvalorização do produto 'Made in Africa'. Para ganhar, um jogador africano terá que fazer milagres: vencer a Champions, a Copa do Mundo, etc", analisa o jornalista.

"Sadio é modesto, ele não tem muita presença nas redes sociais e não é 'bankable' (lucrativo) para os patrocinadores. Mas teoricamente, isso não faz parte dos critérios", lamenta.

Isidore Lopez, de 35 anos, um dono de uma empresa de entretenimento que viaja muito "para assistir jogos de futebol", manifesta totalmente seu "desgosto".

"Estou começando a achar que é uma realidade. Sadio é africano e acabou em quarto", diz ele quando é perguntado sobre uma possível descriminação.

- 'Excepcional, não estratosférico' -

"Não podemos citar o racismo, mas somente o favoritismo", contemporiza à AFP El-Hadji Diouf, ex-astro do Liverpool e da seleção do Senegal que surpreendeu ao vencer a França campeã do mundo na abertura da Copa do Mundo de 2002.

"Ser um jogador africano é obviamente uma desvantagem. Os principais tomadores de decisões e as mídias influentes não são do continente. Mas Messi merece muito. Sadio teve um ano excepcional mas Messi é estratosférico", acrescenta o ex-atacante, por telefone.

Ex-comentarista no Canal+, Aboubacry Ba cita uma falta de solidariedade dos jornalistas africanos. Não há "nada de racista, mas se os votos africanos fossem para os astros do continente, as coisas seriam diferentes", diz ele à AFP.

"A Bola de Ouro não é mais disputada em campo. Precisam entregá-la a um jogador que vende, que surpreende, mas não somente em campo. Os votantes africanos não entenderam que às vezes é preciso votar de uma forma realista", destaca o jornalista da Mauritânia, Lassana Camara, admitindo estar "frustrado" com a ausência de um africano no pódio.

"Nós nos recusamos a acreditar que há racismo", garante o editor do jornal senegalês Sud Quotidien, destacando que Eusébio, Weah, Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo, que já conquistaram a Bola de Ouro, são "todos jogadores de cor". "Mas quando africanos votam contra africanos, não é amanhã que veremos uma luz no fim do túnel", diz o jornal.


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