Envidados iranianos e libaneses negociam nesta terça-feira (3) a sucessão ao governo em Bagdá, com o objetivo de preservar os interesses de Teerã e de seus aliados regionais, enquanto os iraquianos continuam a reivindicar uma queda completa do Executivo.
Mesmo antes de o Parlamento aceitar formalmente a renúncia do primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi, no domingo (1º), os partidos políticos já começaram a se reunir para discutir seu sucessor.
Como acontece em todos os grandes eventos do Iraque, o poderoso general Qasem Soleimani, emissário de Teerã para assuntos iraquianos, foi enviado ao país.
E, para ajudar a preservar as conquistas políticas do Irã - um país que tem tecido suas redes no Iraque há décadas -, o enviado tem um assistente peso pesado, o dignitário xiita Mohamed Kautharani, responsável pelo Hezbollah libanês no Iraque.
- Xeque e general -
"O general Soleimani está em Bagdá para forçar um candidato para substituir Abdel Mahdi", afirmou uma fonte ligada às negociações que pediu para não ser identificada.
O xeque Kautharani também desempenha um grande papel em convencer os partidos xiitas e sunitas a aceitarem essa personalidade, cuja identidade a fonte não quis revelar.
As negociações são muito difíceis, disse outra fonte do governo.
Esperando que um novo Executivo seja encontrado, o atual gabinete deve continuar administrando os assuntos da atualidade, como orçamento, sanções dos EUA contra o Irã e contra personalidades iraquianas, ou manifestantes mortos, explicou.
O presidente do Iraque, Curd Barham Saleh, que deve nomear o futuro premiê, foi um dos primeiros a sugerir que Abdel Mahdi deveria renunciar. Atualmente, porém, o lado curdo - que registrou várias conquistas, especialmente econômicas, durante os 13 meses em que o Executivo de Abdel Mahdi esteve no poder - permanece prudente.
No momento, os diferentes partidos curdos estão tentando superar suas divisões internas para formar uma frente unida no Parlamento federal, disse à AFP o sociólogo Adel Bakawan.
O interesse dos curdos reside em preservar a parte das receitas do petróleo que negociam com Bagdá e reivindicar "garantias de que as eventuais reformas da Constituição não questionarão, entre outros, o artigo 140, que trata das áreas disputadas, do veto das três províncias, do federalismo", acrescentou o especialista.
As discussões do Parlamento para estabelecer uma nova lei eleitoral que levará a uma assembleia mais jovem e mais representativa estão longe de satisfazerem os manifestantes, que querem uma renovação completa das instituições.
Enquanto isso, nas ruas, as manifestações continuam e já deixaram 420 mortos e quase 20.000 feridos.
Os participantes das marchas pedem a eliminação do sistema de distribuição de posições com base na etnia e na fé, ou mesmo o fim do regime parlamentar.
Os manifestantes têm como alvo a classe política, que desviou o equivalente a duas vezes o PIB em casos de corrupção desde 2003, ano em que Saddam Hussein foi derrubado durante a invasão americana.
As manifestações continuaram nesta terça-feira nas cidades do sul, a maioria pacífica. Na cidade sagrada de Najaf, porém, disparos voltaram a ser registrados durante a noite, segundo relatos de testemunhas.