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Estado de Minas IRAQUE

Troca de governo será só o começo

Manifestantes, que velam os mortos nas ruas, pedem fim da ingerência do Irã e dos EUA, além de uma nova Constituição


postado em 02/12/2019 04:00

Manifestante iraquiano ergue a bandeira nacional na cidade sagrada xiita de Najaf, onde os protestos continuaram, após a renúncia do primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi (detalhe) ter sido aceita pelo Parlamento (foto: Haidar Hamdani/AFP)
Manifestante iraquiano ergue a bandeira nacional na cidade sagrada xiita de Najaf, onde os protestos continuaram, após a renúncia do primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi (detalhe) ter sido aceita pelo Parlamento (foto: Haidar Hamdani/AFP)
 
O Parlamento do Iraque aceitou, ontem, a renúncia do primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi, depois de dois meses de violentos protestos contra o governo, que deixaram mais de 420 mortos, 15 mil feridos e milhares de pessoas de luto. O chefe do Parlamento disse que pedirá ao presidente iraquiano que aponte novo primeiro-ministro. A votação ocorreu dois dias depois de Mahdi ter anunciado sua intenção de entregar o cargo. O aiatolá Ali Sistani, maior autoridade xiita do país, exigiu a substituição do gabinete.
 
Fora da capital iraquiana, as manifestações de ontem se transformaram numa espécie de velórios, inclusive em Mossul, grande cidade sunita do Norte do país. As províncias sunitas, reconquistadas dos jihadistas do Estado Islâmico (EI) há dois anos, mantiveram-se, até agora, à margem do movimento de protesto. Embora seus habitantes se queixem dos mesmos males que os do Sul, eles temem ser classificados de nostálgicos do poder de Sadam Hussein ou do EI. Acusações desse tipo foram feitas no Iraque contra os manifestantes por seus detratores.
 
Zara Ahmed, estudante de odontologia em Mossul, marchou ontem vestida de preto. “É o mínimo que podemos fazer em Mossul pelos mártires de Nassiriya e Najaf (cidades xiitas do Sul onde 70 manifestantes morreram nos últimos três dias)”, disse. “Estamos presentes, todo o Iraque está presente, agora o governo tem que atender às reivindicações”, insistiu o estudante Husein Khidhir. Oito províncias do Sul xiita também estavam de luto ontem, e manifestantes ocupavam a maioria dessas praças.
 
Para formar um novo governo, o presidente Barham Ahmed Salih terá de fazer consulta ao principal partido político, o que deverá consumir vários dias. Os iraquianos protestam não só contra a corrupção, como também pedem empregos e serviços que o país não tem oferecido. Nas manifestações de sábado, houve bloqueio nas estradas e cerco à polícia nas localidades de Nassiriya e Diwaniya. Os policiais estão usando granadas, gás lacrimogêneo e também munição real para conter os ativistas nas ruas.
 
Paralelamente à demissão do governo de Mahdi, os manifestantes também querem o fim do sistema político concebido pelos Estados Unidos desde a guerra e invasão de 2003 e a derrubada de Saddam Hussein, e se opõem à influência crescente do Irã. Também pedem uma nova Constituição e, principalmente, a renovação total da classe política, considerada incompetente e que permitiu que, em 16 anos, evaporasse-se o equivalente a duas vezes o PIB anual do país se evaporasse no segundo maior produtor mundial de petróleo.
 
Na cidade sagrada xiita de Najaf, onde um incêndio no consulado iraniano na última quarta-feira abriu caminho para nova onda de repressão e violência, o descrédito nos partidos políticos é total. Em Nassiriya, cidade de origem do premier demissionário e onde cerca de 40 manifestantes morreram entre sexta-feira e sábado passado, os manifestantes não abandonaram seus acampamentos.

Condenados Pela primeira vez desde o começo das manifestações, um tribunal iraquiano condenou à morte, ontem, um policial acusado de ter matado manifestantes. O tribunal penal de Kut ordenou que um comandante da polícia fosse enforcado, enquanto um tenente foi condenado a sete anos de prisão. Ambos foram julgados depois que as famílias de dois dos sete manifestantes mortos em Kut em 2 de novembro apresentaram queixa.


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