O dia seguinte à renúncia do presidente Evo Morales na Bolívia foi de mais violência no país. Novos protestos eclodiram tanto da direita como da esquerda - alguns pacíficos, outro não. Em La Paz, políticos trabalhavam para encontrar uma solução para preencher o vazio de poder deixado pela renúncia, em meio a uma crise constitucional.
Simpatizantes do líder socialista tomados pela ira fizeram barricadas para bloquear algumas estradas que levam ao aeroporto principal do país, enquanto a tensão tomava conta da Bolívia. Ao mesmo tempo, seus opositores bloqueavam a maioria das ruas que davam acesso à praça principal de La Paz, em frente ao Congresso e ao palácio presidencial.
Durante a madrugada, gangues rivais se enfrentaram e tomaram as principais vias do país. Pontos de comércio foram atacados e algumas propriedades, incendiadas. Escolas e lojas permaneceram fechadas nesta segunda-feira, 11, e o transporte público ficou praticamente parado.
Centenas de apoiadores de Evo avançavam nesta segunda-feira em direção a La Paz, partindo da cidade vizinha de El Alto. A marcha saiu à tarde do reduto do ex-presidente indígena.
A chegada de partidários de Evo a La Paz fez surgir o temor de que ocorram choques entre seus simpatizantes e opositores, protagonistas dos atos das últimas semanas que antecederam a renúncia do ex-presidente.
Na maior parte do dia, a polícia estava de braços cruzados, exigindo a saída do comandante Yuri Calderón. Ela estava ausente das ruas da Bolívia desde os motins nos quartéis em três cidades na sexta-feira. Vídeos que circulavam pelo Twitter mostravam alguns oficiais recortando as insígnias de seus uniformes.
Os policiais só começaram a atuar contra atos de vandalismo depois que Calderón renunciou, mas já era tarde demais.
Para tentar conter saques e incêndios em casas e lojas, muitos moradores montaram barricadas. Duas delegacias foram incendiadas.
Os distúrbios, porém, foram registrados em várias outras cidades. Uma das formas mais comuns de protesto é incendiar residências de políticos e figuras importantes. A casa de Evo em Cochabamba foi pichada e destruída na noite de domingo, 10. Carlos Mesa, líder opositor e rival de Evo na eleição de outubro, também reclamou que sua casa em Santa Cruz de la Sierra foi atacada por vândalos.
As Forças Armadas bolivianas disseram nesta segunda-feira que lançaram um plano para proteger os serviços públicos "essenciais" do país em meio ao caos. O plano conhecido como Sebastián Pagador foi lançado devido à "escalada de violência e vandalismo que vem ocorrendo na população e com o objetivo de manter e proteger as áreas e centros vitais do país", de acordo com um comunicado das Forças Armadas.
Evo pediu a médicos, enfermeiras e professores que retornassem aos seus postos para oferecer os serviços à população. O ex-presidente manifestou apoio a seus simpatizantes e denunciou a morte de alguns, o que não foi confirmado pelas autoridades.
"Um dia depois do golpe civil-político-policial, a polícia está reprimindo com munição e causando mortes e feridos em El Alto", postou Evo no Twitter. "Minha solidariedade com as vítimas inocentes, uma delas uma jovem garota, e ao povo de El Alto, que defende a democracia." / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS.