Jornal Estado de Minas

Novas manifestações no Iraque deixam dois mortos

Dois manifestantes morreram neste domingo no sul do Iraque e dezenas de pessoas ficaram feridas pelas forças de segurança, que fizeram disparos no centro de Bagdá, que se virou um campo de batalha.

Os dois manifestantes morreram em Nasiriya baleados durante a noite, enquanto que em Bagdá, na praça Khalani, perto de Tahrir, ondas de manifestantes corriam sob uma nuvem de gás lacrimogêneo.

Na multidão, várias ambulâncias e triciclos motorizados levevam dezenas de feridos perto da praça Tahrir, epicentro dos protestos onde centenas de pessoas se reuniam.

No sábado, nove manifestantes foram mortos a tiros ou por gás lacrimogêneo disparado na praça Tahrir, o epicentro dos protestos, e outros três em Basra, a segunda cidade do país, no extremo sul, de acordo com fontes médicas.

Os combates recomeçaram no domingo na praça Khalani, centro de Bagdá, onde o ar está impregnado de gás lacrimogêneo.

- "Nós ficaremos" -

Desde a noite de sábado "as forças de segurança tentam se mover em direção a Tahrir para dispersar os manifestantes", disse um deles à AFP.

No entanto, um paramédico que cuida dos feridos adverte: "Estamos em Tahrir e lá ficaremos".

As forças policiais ergueram muros de concreto para separar as praças de Khalani e Tahrir.

Os manifestantes afirmam que continuarão bloqueando o país enquanto não obtiverem sua "parcela de petróleo" no Iraque, que possui uma riqueza significativa de petróleo e é o segundo maior produtor da OPEP.

O Iraque tem desemprego de cerca de 25% entre os jovens, enquanto um em cada cinco de seus habitantes vive abaixo da linha da pobreza.

O movimento de protesto originalmente reivindicou empregos e melhores serviços. Agora, os manifestantes também pedem a renúncia de todos os líderes políticos e uma renovação total do sistema político implementado desde a queda do ditador Saddam Hussein em 2003.

- "Banho de sangue" -

A Anistia Internacional pediu em um comunicado às autoridades iraquianas que "ordenem imediatamente o fim do uso contínuo e ilegal da força letal".

A organização também pediu que contivessem suas forças de segurança para "evitar um banho de sangue".

Essa violência deixou mais de 12.000 feridos desde 1º de outubro. E a isso deve-se acrescentar o que muitas vozes no Iraque agora chamam de "nova república do medo", em um país que saiu há 16 anos da ditadura do partido Baas de Saddam Hussein.

Militantes e médicos que apoiam os manifestantes afirmam estar sujeitos a uma campanha de prisões, sequestros e intimidações por forças estaduais e grupos armados.

A representante da ONU no Iraque, Jeanine Hennis-Plasschaert, afirmou que recebia "todos os dias informações sobre manifestantes mortos, sequestrados, arbitrariamente detidos, espancados ou intimidados".

Hennis-Plasschaert acrescentou que hoje, no Iraque, "direitos fundamentais são continuamente violados".

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