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Estado de Minas

Manifestantes aguardam nas ruas a queda do governo do Iraque


postado em 30/10/2019 18:07

O destino do primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdel Mahdi, estava nesta quarta-feira (30) nas mãos do Parlamento, que negocia sua renúncia, enquanto manifestantes reivindicam a queda do regime após protestos que deixaram pelo menos cem mortos na última semana.

Concentrados na Praça Tahrir, em Bagdá, e em várias cidades do sul, os manifestantes desafiaram o toque de recolher nas últimas duas noites e monitoram as manobras políticas, alertando que só aceitarão a saída total do governo.

O chefe dos paramilitares do Hachd al Shaabi no Parlamento, Hadi al Ameri, que até então apoiava Abdel Mahdi, declarou que concorda em trabalhar com o influente líder xiita Moqtada Sadr, que reivindica desde o início de outubro a renúncia do governo, que ele ajudou a formar há um ano.

Nesta quarta-feira, Al-Sadr pediu que Al Ameri tome uma decisão sob pena de "transformar o Iraque na Síria ou no Iêmen", onde protestos contra o governo desencadearam uma guerra civil.

Pelo menos cem pessoas morreram e 5.500 ficaram feridas na última semana de distúrbios e violência no Iraque, informou nesta quarta-feira a governamental Comissão de Direitos Humanos.

Esta cifra elevaria o balanço total desde o início das manifestações, em 1º de outubro, para 257 mortos e mais de dez mil feridos, a imensa maioria civis, segundo a Comissão.

- "O poder do povo" -

A situação de Abdel Mahdi, um político independente de 78 anos e sem base partidária ou popular, deve ser decidida no parlamento, em sessão aberta até nova ordem.

O Parlamento pediu na terça-feira seu comparecimento imediato, no que poderia se tornar uma sessão de perguntas e depois em voto de desconfiança, segundo vários deputados. Mas Abdel Mahdi não reagiu a essa recomendação até o momento.

O presidente Barham Saleh manteve diálogos com o presidente do Parlamento, Mohammed al-Hasbussi, e Ameri, segundo uma fonte declarou à AFP.

"Normalmente, quem detém o poder é o povo! Ele é que levou todos ao poder!", afirma Athir Malek, que chegou de Diwaniya, 200 km ao sul de Bagdá, para se juntar à multidão na praça Tahrir.

"Vão substituir Abdel Amhdi para levar alguém de outro partido que será parecido", disse este iraquiano de 39 anos.

"Queremos recuperar o país que roubaram de nós", acrescentou outro manifestante, Hussein Nuri, de 55 anos.

"Por causa deles faltam escolas e hospitais, por isso é necessário que todos renunciem e que se forme um governo de salvação nacional", disse Alaa Khdeir, de 63 anos.

Desde o início do movimento, em 1º de outubro, os manifestantes iraquianos não pararam de repetir que rejeitam qualquer manobra política.

Para eles, a queda do governo não é suficiente. É necessário renovar toda a classe política que chegou ao poder após a queda do ditador Saddam Hussein em 2003 e que não mudou desde então.

Eles dizem que querem acabar com o complicado sistema de distribuição de posições por confissão ou grupo étnico consumido pelo clientelismo e garantir que uma nova Constituição seja necessária.

Além disso, querem os "peixes grandes peixes da corrupção" devolvam o dobro do PIB do Iraque - segundo produtor da Opep - que, segundo eles, evaporou desde 2003 em um país considerado um dos mais corruptos do mundo.

- Pausa? -

Na Praça Tahrir, os manifestantes defendem a continuidade desse primeiro movimento social espontâneo pós-Saddam, mostrando sua determinação, apesar da violência.

Na quinta-feira passada, o protesto recomeçou com manifestações maciças, menos mortais e mais efetivas, e a paralisação de universidades, escolas e outras instituições. À noite, goram registrados atos de violência contra os quartéis-generais de partidos e milícias.

A renúncia ou demissão de Abdel Mahdi foi "vista como um ponto de virada pelos manifestantes", disse à AFP Maria Fantappie, do think tank do Crisis Group (ICG).

"Mas isso pode marcar uma pausa invés do fim do movimento", alertou.

Fantappie ressalta que "uma futura eleição com a mesma lei eleitoral traria as mesmas faces ao Parlamento e as mesmas negociações para encontrar um primeiro-ministro", em uma assembleia fraturada, cujos membros se acusam mutuamente de lealdade ao Irã, Estados Unidos, Arábia Saudita e Turquia.

O Guia supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, assegurou nesta quarta que os libaneses - cujos protestos resultaram na renúncia do primeiro-ministro - e os iraquianos têm reivindicações "justas", mas devem formulá-las "dentro da lei".


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