O governo boliviano concordou com a Organização dos Estados Americanos (OEA), nesta quarta-feira (30), em realizar uma auditoria das eleições que deram uma polêmica vitória ao presidente Evo Morales.
O objetivo é buscar uma saída para os protestos que continuam a tomar as ruas do país.
"Concluímos os acordos a serem firmados entre a Bolívia e a Organização dos Estados Americanos (OEA) para que se possa fazer a auditoria integral das eleições gerais de 20 de outubro", anunciou o chanceler boliviano, Diego Pary, em entrevista coletiva.
Como havia solicitado o candidato opositor, Carlos Mesa, que denunciou a ocorrência de uma fraude eleitoral, "o resultado do informe de auditoria será vinculante para as duas partes", acrescentou Pary.
O acordo com a OEA garante "a verificação das atas, verificação do processo, de dados estatísticos e da cadeia de custódia" dos votos, além do "acesso às instalações e as informações que forem solicitadas" pelos técnicos que vão chegar ao país na quinta-feira. A auditoria começa amanhã mesmo.
Segundo o acerto, o processo de revisão "se concentrará na jornada eleitoral e nas fases posteriores".
Em reação nesta quarta-feira, Carlos Mesa disse rejeitar a auditoria eleitoral "unilateral" entre o governo Morales e a OEA.
"Nós não aceitamos a auditoria nos termos atuais, pactados unilateralmente", afirmou Mesa em uma declaração à imprensa, horas depois de o chanceler Diego Pary confirmar a revisão completa das eleições de 20 de outubro.
Ontem, porém, este centrista que governou a Bolívia entre 2003 e 2005 havia acolhido a revisão do processo, dizendo ter esperança de que "demonstre a fraude de maneira categórica e inequívoca".
A auditoria foi sugerida na semana passada pelo presidente boliviano ao secretário-geral da OEA, Luis Almagro, depois de a oposição ter denunciado uma fraude para garantir o quarto mandato de Morales, com a cumplicidade do Tribunal Supremo Electoral (TSE).
Um primeiro sistema de contagem rápida de votos do TSE antecipava, horas depois da votação, um segundo turno entre Morales e Mesa.
Após um silêncio de mais de 20 horas sobre o avanço da apuração - que despertou suspeitas e denúncias -, a tendência mudou e foi declarada a vitória de Morales já no primeiro turno. O presidente obteve 47,08% dos votos contra os 36,51% de Mesa.
A lei boliviana atribui a vitória no primeiro turno, se um dos candidatos atingir mais de 50% dos votos, ou com 40% e uma vantagem de dez pontos percentuais sobre o segundo.
- Grupos radicais se opõem -
A decisão de realizar a auditoria não é compartilhada por alguns grupos civis que lideram há uma semana os protestos em várias cidades do país.
Contrário à auditoria da OEA, o líder do opositor Comitê Cívico de Santa Cruz (leste), Luis Fernando Camacho, propôs anular as eleições.
"A solução é anular as eleições e ir para um novo processo (...). Se o governo aceitar, a greve será suspensa", garantiu Camacho, referindo-se à paralisação em curso nesta localidade do sudoeste boliviano e que também acontece em outras cidades, como La Paz.
Em meio aos protestos, esta semana houve duros confrontos em Santa Cruz, La Paz e Cochabamba entre simpatizantes de Morales e de Mesa. Por enquanto, o balanço é de mais de 40 feridos, incluindo cinco baleados.
Diante da escalada da violência, a ONU fez ontem "um apelo clamoroso e urgente aos atores políticos, aos setores sociais e a todas e todos os bolivianos para reduzirem tensões e rejeitarem qualquer ato de violência".