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Estado de Minas

Argentinos surpresos e frustrados com novas restrições cambiais


postado em 29/10/2019 20:31

Para muitos argentinos, essa é uma "semana negra". Após a vitória do peronista Alberto Fernández nas eleições da Argentina, o Banco Central limitou a 200 dólares por pessoa a compra mensal de divisas até 10 de dezembro para proteger as reservas internacionais.

É o caso de Alejandra, empregada de 53 anos. Para saldar dívidas com o banco que se tornaram impagáveis com os juros a quase 100%, ela contraiu um empréstimo pessoal e, para quitá-lo, precisa desembolsar 500 dólares ao mês.

"É uma situação muito angustiante. (...) Eu tenho conta em dólares, mas meu marido não, e estamos desesperados tentando abrir uma", explica.

Quem tem conta em dólares poderá comprar até 200 por mês, mas para os que não tiverem e precisarem adquirir a divisa em dinheiro, o limite é a metade.

"Se não pudermos ter uma conta cada um, teremos que todos os meses comprar 300 dólares nos 'arbolitos' (venda informal) com um custo enorme", acrescentou.

As penúrias de Alejandra também afetam poupadores, comerciantes e empresários.

A divisa americana foi um refúgio para os argentinos que procuram defender seu salário da inflação, um pesadelo constante no país sul-americano.

A incerteza e uma inflação que somou 37,7% entre janeiro e setembro e levou muitos argentinos a comprar dólares, algo que se acentuou nas semanas anteriores à eleição, na qual o peronista de centro-esquerda venceu o presidente liberal Mauricio Macri.

Os bancos transbordaram diante da quantidade de pessoas que demandaram dólares ou que, por temor, esvaziaram suas contas com a divisa.

Mas, após as eleições, os bancos estão vazios. Em contraste, as filas são cada vez maiores nas casas de câmbio ilegais.

Nas ruas que cruzam a rua Florida também proliferam os "arbolitos", um exército de homens e mulheres que oferecem "o melhor câmbio" ilegal e livre de qualquer controle.

Contudo, comprar dos "arbolitos" tem seu custo: nesta terça, a taxa de câmbio era de 69 pesos por dólar, três a mais que o oficial.

- Medidas tardias -

Acostumados a sofrer com descalabros econômicos, a medida do Banco Central não surpreendeu os argentinos. Em setembro, as compras de poupadores já tinham sido limitadas a 10 mil dólares mensais, em uma economia dizimada, com inflação elevada, aumento da pobreza e uma dívida de quase 100% do PIB, segundo as agências classificadoras.

"O 'cepo' (controle cambial) em si, para mim, parece bom, e teriam que ter feito antes, para que tantos bilhões não tivessem fugido desde as primárias", em agosto", apontou Bruno Söllner, empresário de 58 anos que importa pigmentos para pinturas e os revende como insumo industrial.

Analistas preveem que a medida, apresentada como transitória, se prolongará até depois de dezembro, quando Fernández assume, embora com algumas variações.

Desde as primárias, o BC perdeu 22 bilhões de dólares. Só na sexta, 1,75 bilhão fugiram, deixando as reservas em 43,50 bilhões.

Após assumir em dezembro de 2015, Macri eliminou as restrições cambiais que sua antecessora, Cristina Kirchner, tinha imposto. Mas ele reinstaurou-as após as primárias, depois de vários dias de pressão sobre a moeda, na contra-mão das políticas liberais que tinha defendido.

- Informalidade -

O endurecimento do controle cambial trouxe dores de cabeça à população.

"Quando vendemos, nos pagam com um cheque a 30 dias com uma taxa de câmbio do dia em que a fatura foi gerada. Mas, quando cobramos, esse dólar está cotado muito acima", explicou Sergio, de 56 anos, que vende softwares e hardwares a empresas multinacionais.

A medida não afeta muitos argentinos que não têm renda para ter poupança em dólares.

Outros, com mais recursos, optaram por sacar as economias e abrir contas em outros países, onde se sentem mais seguros.

Eles temem uma repetição da crise de 2001 na Argentina, quando devido a uma corrida bancária o governo impôs restrições aos saques de depósitos.

Patricio, que se dedica ao ramo imobiliário, sacou 17 mil dólares dias antes das primárias. Agora, guarda-os em sua casa. Mas sua verdadeira poupança está no Uruguai e no Paraguai, onde também tem negócios.

"Nem doido eu deixo um dólar aqui", garante.


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