Jornal Estado de Minas

Manifestantes seguem mobilizados no Líbano

Os bloqueios de estradas por manifestantes aumentaram nesta sexta-feira (25) no Líbano, marcando sua determinação contra a classe política no nono dia de uma mobilização sem precedentes marcada por incidentes.

Militantes do poderoso movimento xiita pró-iraniano Hezbollah, cada vez mais visíveis nas ruas, estiveram envolvidos na quinta-feira à noite em confrontos em Beirute, indignados com as críticas lançadas a seu líder Hassan Nasrallah.

Nasrallah deve se pronunciar esta tarde. O Hezbollah é o único movimento político armado do país, em nome de sua luta contra Israel.

No dia seguinte a um discurso à nação do presidente Michel Aoun, considerado unanimemente decepcionante, dezenas de novas barricadas apareceram nas estradas, fortalecendo a paralisia do país, constataram correspondentes da AFP.

O bloqueio da via que liga Beirute ao norte do país foi mantido. Grandes lonas azuis foram instaladas para proteger os manifestantes da chuva e permitir que alguns passassem a noite.

"Fechada por causa da divisão do país", dizia um cartaz, enquanto inúmeras placas recordavam a principal reivindicação do movimento de protesto: a substituição imediata de uma classe política incapaz de endireitar o país e quase inalterada desde o final da guerra civil (1975-1990).

Issam, médico de 30 anos, está mais determinado do que nunca, apesar do fechamento prolongado dos bancos, escolas e universidades.

"Vamos continuar até a queda do regime. Não temos escolha, as pessoas estão com fome", assegurou, enquanto serviços básicos - como água, eletricidade e acesso universal à saúde - não são assegurados no país.

Dezenas de voluntários, incluindo famílias com crianças pequenas, começaram a limpar o centro da cidade esta manhã.

O Exército, presente em massa nas ruas nos dois dias anteriores, adotou uma postura mais discreta, apesar do chamado de Aoun para garantir a "liberdade de circulação dos cidadãos".

O movimento de contestação foi desencadeado em 17 de outubro pelo anúncio inesperado de um imposto sobre as chamadas via WhatsApp, imediatamente cancelado.

O presidente Aoun, ex-general de 84 anos, propôs reunir-se com "representantes" dos manifestantes, cujo movimento espontâneo não tem precisamente líderes ou porta-vozes.

Ele apoiou o plano de reforma apresentado na segunda-feira pelo primeiro-ministro Saad Hariri, que foi imediatamente rejeitado pelas ruas. Também sugeriu uma mudança ministerial, a única pista séria de seu discurso, de acordo com a imprensa.

Mas um impasse prolongado pode levar a uma derrapagem do movimento de protesto, de acordo com a imprensa.

O jornal Al-Akbar, próximo do Hezbollah, alertou para "o risco de caos". "O Hezbollah decidiu ir às ruas para liberar as estradas", escreveu.

Um tabu foi quebrado quando Hassan Nasrallah foi criticado em redutos xiitas do sul do país, particularmente na cidade de Nabatiyah.

Foram relatados incidentes violentos entre manifestantes e militantes do Hezbollah, mas a mobilização parece não enfraquecer, com uma presença maciça e perceptível de jovens e mulheres.

Também ocorreram confrontos em um bairro cristão a leste de Beirute, entre manifestantes e militantes do partido de Aoun.

Os manifestantes dizem estar cientes das tentativas de "infiltração" do movimento.

"Querem nos dividir, mas não terão sucesso. O que nos motiva é saber que estamos juntos nas ruas, não apenas em Beirute, mas também em Nabatiyah, Tire, Trípoli e em outros lugares", disse Fares Halabi, pesquisador de 27 anos.

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