Jornal Estado de Minas

Jordânia e Israel, 25 anos de uma paz 'cada vez mais fria'

Vinte e cinco anos depois da assinatura de um histórico tratado de paz, as relações entre Jordânia e Israel refletem as tensões de uma região conturbada. E muitos jordanianos continuam considerando o Estado hebreu como um "inimigo".

Assinado em 26 de outubro de 1994, em pleno processo de paz entre israelenses e palestinos, o tratado acabou com décadas de guerra entre os dois vizinhos. Enfrenta desafios crescentes, porém, destacam os analistas.

"O Estado de Israel, com o qual assinamos um tratado de paz há 25 anos, não é o mesmo de hoje", afirma o diretor do centro de estudos políticos Al-Qods, Oraib Rantawi.

"É outro Israel, dirigido por uma corrente religiosa ultranacionalista", completa, em referência à década de poder de Benjamin Netanyahu, à frente de uma coalizão conservadora.

O reino compartilha sua fronteira com Israel e com os Territórios palestinos ocupados, onde um conflito de várias décadas se tornou a matriz das convulsões políticas do Oriente Médio.

Único país árabe com o Egito a assinar um tratado de paz com o Estado hebreu, a Jordânia administrou ainda a Cisjordânia e a parte leste da Cidade Sagrada, de maioria árabe, até a guerra de 1967, quando Israel ocupou e anexo Jerusalém Oriental.

Desde então, o reino conserva a tutela sobre os locais sagrados muçulmanos em Jerusalém.

- "Legitimidade religiosa" -

"Israel não mostra nenhum respeito pela tutela jordaniana dos lugares sagrados (...) e suas tentativas de judaicizar Jerusalém se multiplicam", denuncia Yazid Khleifat, um funcionário público jordaniano de 38 anos.

"O tema da tutela dos locais sagrados é sensível para os hashemitas, pois afeta sua legitimidade religiosa", explica o cientista político Labib Kamhawi, de Amã, em referência à dinastia da qual procede o atual rei Abdallah II, descendente do profeta Maomé.

O próprio monarca chamou diversas vezes as relações com Israel de "paz fria e cada vez mais fria" e advertiu que Jerusalém constitui uma "linha vermelha".

Apesar da anexação de Jerusalém Oriental não ter sido reconhecida pela comunidade internacional, o presidente americano, Donald Trump, reconheceu oficialmente Jerusalém como capital do Estado hebreu em 2017, provocando a repulsa dos palestinos, que desejam transformar Jerusalém Oriental na capital do Estado a que aspiram.

Em setembro, Benjamin Netanyahu prometeu anexar as colônias judaicas construídas no Vale do Jordão.

A ONU advertiu que uma anexação "seria devastadora para a possibilidade de reativar as negociações (...) e para a essência de uma solução de dois Estados vizinhos", israelense e palestino.

- Palestinos deslocados -

"A Jordânia respeita a paz com Israel", afirma Yussef Rashad, 41 anos, que trabalha com marketing. Mas o Estado hebreu "nunca quis realmente a paz e utilizou o tratado para ganhar tempo e destruir qualquer possibilidade de solução de dois Estados" opina.

"Israel deslocou milhões de nossos irmãos palestinos", afirma Khleifat, que acusa o país vizinho pela morte de "milhares" de árabes. Para ele, Israel é o "inimigo número um" da Jordânia, que tem metade de sua população de 9,5 milhões de habitantes de origem palestina.

Vários projetos econômicos foram criados para tentar estabelecer a paz, entre eles a construção de um aeroporto conjunto ou um canal que ligaria o Mar Vermelho ao Mar Morto, mas, segundo Rantawi, "não houve avanços em nenhum dos projetos".

Israel fornece 50 milhões de metros cúbicos de água por ano ao vizinho, muito afetado pela seca, assim como gás.

O volume de negócios entre os dois países é modesto, porém. Mais de 100.000 turistas israelenses visitam a cada ano a Jordânia, mas apenas 12.000 jordanianos visitaram o Estado hebreu em 2018.

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