Os sócios europeus do Reino Unido aceitaram nesta quarta-feira (23) prorrogar o Brexit para evitar um divórcio sem acordo no dia 31 de outubro, mas divergem sobre a duração do adiamento solicitado pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.
Os embaixadores na União Europeia (UE) expuseram a posição de cada capital durante um encontro em Bruxelas, e "todos concordaram na necessidade de uma prorrogação para evitar um Brexit sem acordo", disse uma fonte europeia ao fim da reunião.
Não houve acordo sobre a duração. "O ambiente aponta para uma prorrogação até 31 de janeiro", assegurou um diplomata europeu. As fontes consultadas pela AFP disseram que nenhuma outra data concreta além dessa foi colocada sobre a mesa.
Faltando alguns dias para a data prevista para o Brexit, Johnson, forçado por seu Parlamento, pediu para adiar o Brexit até 31 de janeiro, um adiamento de três meses defendido também pelo chefe do Conselho Europeu, Donald Tusk, e que parece também convencer o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar.
Para ambos, que conversaram nesta quarta-feira por telefone, "o Reino Unido poderia se retirar antes de 31 de janeiro de 2020, caso se ratifique o acordo de retirada antes dessa data", assegurou o governo irlandês.
Para o presidente da Eurocâmara, David Sassoli, esse adiamento de três meses permitiria ao Reino Unido "esclarecer sua posição" e aos eurodeputados "desempenhar seu papel".
A decisão de estender o prazo deve ser por unanimidade e "se existirem diferenças" entre os 27 os mandatários, eles poderiam confirmá-la durante uma nova cúpula de líderes em 28 de outubro para fechar uma data.
A decisão ainda não está tomada. Os embaixadores europeus devem se reunir novamente na sexta-feira, enquanto Tusk continua consultando aos dirigentes do bloco, que na última quinta-feira fecharam um novo acordo de divórcio com o governo britânico.
- Dias, semanas, meses -
As diferenças começam a aparecer. A França, através de sua secretária de Estado para os Assuntos Europeus, Amélie de Montchalin, falou na terça-feira de sua disponibilidade para um "adiamento técnico" da data do Brexit, mas de apenas "alguns dias".
A Alemanha não se oporá ao adiamento da data do Brexit, segundo a porta-voz da chanceler Angela Merkel, após o chamado do Presidente do Conselho Europeu para aceitar tal medida.
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, já havia defendido o adiamento por duas ou três semanas, se isso permitir que deputados britânicos, que na segunda-feira apoiaram o acordo assinado quatro dias antes por Johnson, ratifiquem a lei.
"Se é para adiar o Brexit até o final de janeiro, precisamos saber o motivo, o que acontecerá nesse meio tempo e se haverá eleições no Reino Unido", disse Maas em declarações à televisão alemã RTL.
As dúvidas na UE estão focadas precisamente nos planos de Johnson, determinados a deixar seu país fora do bloco em 31 de outubro, mas na terça-feira ele não obteve o apoio do parlamento para um processo acelerado da ratificação.
Após essa caótica sessão parlamentar, o primeiro-ministro britânico garantiu que suspendeu o processo legislativo enquanto aguardava a decisão da UE, mas, ao mesmo tempo, garantiu que deixariam o bloco com esse acordo.
Em uma conversa nesta quarta-feira com o chefe do Conselho Europeu, o 'premiê' britânico pediu para "não prorrogar" o Brexit, segundo uma fonte diplomática, que descreve uma "situação muito complexa", na qual a decisão da UE poderia "provocar eleições no Reino Unido".
No poder por menos de três meses, Johnson também tenta convocar legislativas antecipadas, já que em setembro ele perdeu a maioria no Parlamento britânico, algo que a oposição está impedindo no momento.
Uma terceira extensão do Brexit, que foi apoiado por 52% dos votos no referendo de 2016 e inicialmente agendado para março passado, deve permitir que as eleições, e também estender um processo que parece interminável.