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Estado de Minas

Brexit também gera apreensão nas Ilhas Falklands, no Atlântico sul


postado em 21/10/2019 08:13

Embora estejam a 12.000 quilômetros de Londres, as habitantes das Ilhas Falklands - ou Malvinas, como são chamadas na Argentina - temem os efeitos do Brexit, que pode afetar suas vitais indústrias pesqueira e de carne, e deixar desprotegida sua incrível biodiversidade.

Enquanto se aproxima a data do divórcio, em 31 de outubro, os conservacionistas deste território do Atlântico Sul, com 3.400 habitantes, não escondem sua preocupação.

Para eles, o Brexit pode significar a perda de uma preciosa fonte de financiamento da UE.

Esther Bertram, diretora-executiva da ONG Falklands Conservation, diz que o Reino Unido deve assumir a responsabilidade pela vida silvestre de seu território ultramarino, um arquipélago cuja ilha principal, Grande Malvina (West Falkland) se situa a 470 km da costa argentina, que continua reivindicando a soberania de todo o território.

"Não se deve esquecer que aqui está a vida silvestre mais fabulosa do Reino Unido", diz ela à AFP.

"Aqui vêm as ameaçadas baleias-boreais; temos as maiores populações de albatroz-de-sobrancelha, temos cinco (espécies de) pinguins, elefantes-marinhos-do-sul. É um ambiente natural extraordinário", acrescenta.

Segundo o governo, cerca de 90% da biodiversidade do Reino Unido fica em territórios ultramarinos.

Em anos recentes, as Falklands, que contam com total autonomia do governo, receberam 600.000 euros através do programa BEST, da UE, destinado à proteção de ecossistemas em regiões remotas e países e territórios europeus ultramarinos.

Bertram, de 45 anos, se pergunta como tal déficit será compensado após o Brexit.

"Não houve nenhuma garantia de que no futuro possamos ter acesso ao financiamento da UE. Acreditamos que o governo do Reino Unido tem um compromisso com sua biodiversidade nos territórios ultramarinos tanto quanto em qualquer outro lugar", afirma.

- "Potencial efeito colateral" -

As duas principais indústrias das Malvinas - a pesca e a carne - poderão ser afetadas negativamente por um Brexit sem acordo ou inclusive com um acordo ruim, afirma Leona Roberts, uma das oito integrantes da Assembleia Legislativa das Falklands.

A pesca representou 43% do PIB do arquipélago entre 2007 e 2016, e 89% das exportações pesqueiras em 2018 foram feitas à UE.

"Atualmente, nos beneficiamos de uma isenção de tarifas alfandegárias e cotas, e se isto mudar, estaríamos em uma situação muito difícil com uma queda considerável da renda do governo", afirma Roberts.

As tarifas alfandegárias da Organização Mundial do Comércio (OMC) variam de 6% a 18%. O governo local estima que uma saída sem acordo equivaleria a uma queda de 16% nos lucros pesqueiros.

A indústria da carne, que depende principalmente de fazendas familiares, também pode sofrer um impacto significativo, embora a maior parte da carne bovina e de cordeiro das Malvinas é enviada ao Reino Unido.

"Existe um potencial efeito colateral ali se introduzirem cotas e tarifas", explica Roberts.

Se menos carne produzida no Reino Unido for vendida à UE, será necessário importar uma quantidade menor das Falklands, o que supõe "o risco de perda de empregos", acrescentou.

O governo das Falklands estima que neste setor as perdas anuais possam chegar a 30%.

- "Pragmatismo natural" -

Os moradores do arquipélago não puderam votar no referendo do Brexit. As ilhas não fazem parte do Reino Unido e, portanto, tampouco da UE, mas como território ultramarino, se beneficiam da união alfandegária.

Outro setor, o da lã virgem, parece menos ameaçado por se tratar de um setor não taxado, disse Keith Alazia, gerente da fazenda Goose's Green, situada na Grande Malvina (West Falkland) e uma das 92 fazendas que abrigam nas ilhas meio milhão de ovelhas.

Mas os locais também têm outras preocupações. "Diz-se que (...) nossos remédios vão ficar mais caros", comenta Joanne Baigorri, de 27 anos, funcionária do único banco local.

Gabi McRae, chilena que trabalha na Falkland Islands Meat Company, diz já ter sentido o efeito de uma libra mais fraca.

"Há poucos anos, quando fazia o câmbio, uma libra equivalia a 1.000 pesos chilenos. Agora, vale apenas 600-700", conta esta mulher de 31 anos.

Roberts, no entanto, sente que aconteça o que acontecer, o "pragmatismo natural e o espírito solidário" dos ilhéus os ajudará a encontrar uma forma de sobreviver.


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