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Estado de Minas

Morales e Mesa jogam últimas cartas ao encerrar campanha na Bolívia


postado em 16/10/2019 19:07

O presidente Evo Morales joga nesta quarta-feira (16) as últimas cartas para as eleições de domingo na Bolívia, as mais disputadas em seus 13 anos no poder, desafiado por Carlos Mesa, que encerra sua campanha reunindo apoios, ao advertir para o viés autoritário do líder esquerdista.

Na campanha que termina nesta quarta, a oposição questiona sobretudo a intenção autocrática de Morales de tentar a terceira reeleição depois de ter perdido em 2016 um referendo no qual os bolivianos rejeitaram que ele voltasse a disputar eleições.

No entanto, seguidores e adversários deste ex-líder cocaleiro de esquerda admitiram que seu modelo econômico, propiciado pelo boom das commodities, graças às compras da China, abriu um longo capítulo de bonança neste país exportador de gás natural.

Uma missão de observadores da Organização de Estados Americanos em visita ao país pediu para manter a harmonia, após uma escalada de tensões faltando quatro dias para as eleições. "É natural que haja divergências, disso se trata um processo eleitoral democrático, mas não atos de violência", afirmou o chefe da missão da OEA, Manuel González.

A mais recente pesquisa da Universidade Mayor de San Andrés de La Paz e outras organizações indicou que Morales teria 32% dos votos no primeiro turno contra 27% de seu principal adversário, o ex-presidente Carlos Mesa da aliança do centro Comunidade Cidadã.

Morales, de 59 anos, escolheu para se despedir de sua campanha a cidade de El Alto, ao lado de La Paz, onde milhares de pessoas chegavam em família ou em grupos sindicais "para que [Morales] veja que conosco, vai vencer, o chefe não se vai", afirmou Rogelio Díaz, jovem vendedor de 34 anos, em meio a uma multidão de indígenas aimaras, com 'cholitas' (mulheres vestidas em trajes tradicionais), carregando seus fardos multicoloridos nas costas.

Mesa, de 66 anos, se despedirá de seus seguidores em Santa Cruz, a grande cidade industrial do leste do país, conhecida como reduto da oposição ao governo.

"Este é um momento no qual temos que decidir entre o caminho autoritário da ditadura e o caminho da construção democrática", disse na noite de terça-feira Mesa, ao encerrar seu último comício em La Paz diante de milhares de seguidores que consideram inconstitucional que Morales tente um quarto mandato.

Parte do aumento nas intenções de voto de Mesa nas últimas semanas se deve ao impacto dos gigantescos incêndios que em agosto e setembro queimaram na Bolívia uma área imensa de mata nativa. Os incêndios provocaram revolta entre ambientalistas e comunidades indígenas, que acusam Morales de ter traído seu compromisso com a 'Pachamama', a Mãe Terra, a favor de ampliar territórios para a exploração da soja e da pecuária.

Morales defende sua candidatura, baseado na redução da pobreza e nas altas taxas de crescimento, que mesmo em declínio, situam-se em 4,2% atualmente, e diz que com qualquer outro candidato vão se perder os direitos sociais neste país de 11 milhões de habitantes, que está entre os mais pobres da região.

Diante de seus simpatizantes em Santa Cruz, o presidente acusou seus adversários de querer somar a Bolívia ao chamado "Grupo de Lima", formado por uma dúzia de países latino-americanos e o Canadá, no qual - segundo ele - "estão presidentes e governos submissos aos Estados Unidos (e são) governos privatizadores".

No entanto, seguidores a adversários deste ex-líder cocaleiro de esquerda admitem que seu modelo econômico, propiciado pela época dourada das commodities graças às compras da China, abriu neste país exportador de gás natural um longo capítulo de bonança.

- Bonança insustentável -

Em El Alto, planície a 4.000 metros de altitude vizinha a La Paz, espera-se que milhares de "hermanos" expressem seu apoio no último ato eleitoral às vésperas da disputa eleitoral mais difícil para Morales.

Esta cidade de migrantes, majoritariamente aimaras, é um claro reflexo do crescimento da economia do país, aonde chegaram nos últimos anos milhares de camponeses e indígenas que abandonaram as províncias para ir trabalhar na indústria da construção, de farinha, em laboratórios e fábricas de alimentos processados.

"Claro que passamos por um bom período econômico e votei em Morales porque houve estabilidade política, mas agora tem que sair. Ele não é dono do país e já tem muita corrupção", disse Evangelina, enfermeira de 55 anos, moradora de El Alto.

"É difícil negar que, até pouco tempo atrás, a economia da Bolívia tivesse desempenhado muito bem sob (o governo de) Evo Morales", disse à AFP Michael Shifter, presidente do centro de análise Diálogo Interamericano, baseado em Washington.

Shifter enumerou entre os feitos destes anos as altas taxas de crescimento, uma forte redução da pobreza e um nível recorde de reservas, "mas com a queda dos preços das matérias-primas, o governo Morales se viu obrigado a pedir mais empréstimos e reduzir as reservas para tentar manter os bons tempos".

"O modelo econômico boliviano teve êxito durante alguns anos, mas não é mais sustentável", afirmou o analista.


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