Os indígenas se reuniram novamente com a polícia nesta sexta-feira (11) em Quito, no décimo dia de protestos contra os ajustes econômicos acordados pelo governo de Lenín Moreno com o FMI, após a convocação das lideranças para intensificar as ações na ausência de diálogo.
Os distúrbios eclodiram nos arredores da sede do Legislativo, que havia sido brevemente ocupado pelos indígenas nesta quarta-feira, e em outro ponto do centro desta cidade militarizada e abalada pela severa crise.
Os manifestantes jogaram pedras e coquetéis molotov em policiais, que tentaram dispersá-los com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Veículos de choque avançaram em direção a homens encapuzados.
"Assassinos!", gritaram os indígenas que, segundo testemunhas, foram interceptados quando tentavam se reunir no estádio de Ágora, onde está reunida a Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), umas das lideranças do protesto.
Esses choques coincidiram com a chegada de indígenas da Amazônia equatoriana a Quito.
"Aqui estão violando os direitos humanos", disse, enfurecido, Marlon Vargas, dirigente dessas comunidades, em um vídeo transmitido pela organização.
Fotógrafos da AFP registraram a transferência de feridos em macas improvisadas pelos manifestantes. O governo não se pronunciou sobre a violência.
- Protesto fortalecido -
Os amazônicos se juntaram aos indígenas do centro andino que entraram na capital a partir de segunda-feira a pé e de ônibus, desafiando o estado de exceção imposto por Moreno no início do protesto.
Cerca de mil indígenas chegaram à capital na sexta-feira e "outro grupo está chegando", disse à AFP Apawki Castro, porta-voz da Conaie. Por causa dos protestos, Moreno deixou o controle da ordem pública para os militares e transferiu a sede do governo de Quito para o porto de Guayaquil (sudoeste).
Nesta quinta-feira, a liderança indígena afastou qualquer tentativa de diálogo buscada pelo governo, a pedido da ONU e da Igreja Católica, em busca de uma saída para crise desencadeada pelo fim dos subsídios aos combustíveis e o consequente aumento dos preços em até a 123%.
Abalada pela morte de um líder indígena nas manifestações de quarta-feira, a Conaie prometeu "radicalizar" suas ações por meio de bloqueios de estradas e prédios públicos.
Segundo a Defensoria Pública, a primeira semana de protestos deixou cinco civis mortos, 554 feridos e quase mil detidos.
Washington expressou nesta sexta seu apoio ao presidente equatoriano e suas "necessárias" reformas econômicas, por meio de um comunicado do secretário de Estado Mike Pompeo.
"Os Estados Unidos apoiam os esforços do presidente Moreno e do governo do Equador para institucionalizar as práticas democráticas e aplicar reformas econômicas necessárias", afirma o comunicado.
A violenta reação às reformas econômicas impostas por Moreno mergulhou Quito no caos e interrompeu o transporte de petróleo - a maior fonte de divisas do país - por seu principal oleoduto, devido à ocupação de poços na Amazônia.
O líder Marlon Vargas lançou uma nova convocação para intensificar o protesto na floresta amazônica.
Moreno, no poder desde 2017, enfrenta sua maior crise devido aos empréstimos milionários negociados com o FMI para aliviar o pesado déficit fiscal que culpa o desperdício, o endividamento e a corrupção do governo de seu antecessor e exaltado Rafael Correa.
Os povos indígenas, que representam 25% dos 17,3 milhões de equatorianos, são o setor mais punido pela pobreza e trabalham principalmente no campo. Com a liberação dos preços dos combustíveis, eles precisam pagar mais para transportar seus produtos, enquanto temem uma inflação generalizada.
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