Jornal Estado de Minas

Eleições legislativas no Kosovo sob olhar atento da comunidade internacional

O Kosovo foi às urnas neste domingo (06) para eleger seus deputados, que trabalharão sob forte pressão da comunidade internacional para resolver seu conflito com a Sérvia, uma das principais fontes de instabilidade na Europa.

No total, 1,9 milhão de eleitores, muitos dos quais residem no exterior, foram convocados a votar até 19h00 (14h00 de Brasília).

Os principais partidos ainda não informaram sobre resultados. Os primeiros cálculos de uma associação de observadores e da rede local Klan Kosova apontavam para uma provável vitória da oposição contra os partidos liderados por ex-chefes da guerra.

Vinte anos após a última das guerras que levaram à desintegração da Iugoslávia (1998-1999, 13.000 mortos), Belgrado ainda não reconhece a independência proclamada em 2008 por sua antiga província, habitada principalmente por albaneses. O veto da Rússia e da China também frustra qualquer perspectiva de adesão à ONU.

As relações entre Pristina e Belgrado, marcadas por picos esporádicos de tensão, são péssimas e representam um grande obstáculo à sua aproximação com a União Europeia, com a qual a Sérvia está negociando a adesão.

Para a grande maioria dos 1,9 milhão de kosovares, a coisa mais importante, porém, não é isso.

"Estou farto dessa história de diálogo", diz Salih Mehana, um vendedor de 39 anos, resumindo o ânimo da população, desgastada pela pobreza, corrupção, clientelismo e infraestruturas e serviços públicos desastrosos.

Um descontentamento que pode ser fatal para os "partidos da guerra", liderados por ex-comandantes da guerrilhas da independência, que lideram o Kosovo desde a declaração de independência.

Em 2018, eles deixaram de lado suas divergências para permanecer no poder.

Desta vez, o PDK (Partido Democrático do Kosovo), do presidente Hashim Thaçi, e o AAK (Aliança para o Futuro do Kosovo), do primeiro-ministro Ramush Haradinaj, estão divididos.

Nenhuma pesquisa confiável foi publicada, mas analistas sugerem que uma coalizão de centro-direita (LDK, Liga Democrática do Kosovo) e da esquerda nacionalista (Vetevendosje, "Autodeterminação") poderia expulsar os ex-guerrilheiros do poder.

Seus líderes, Vjosa Osmani, que quer se tornar a primeira mulher a liderar o Kosovo, e Albin Kurti, um ex-líder estudantil preso pelos sérvios, têm em comum sua hostilidade em relação aos "comandantes", o que pode ser o suficiente para que formem uma aliança.

Quaisquer que sejam os resultados, "a questão do diálogo será decisiva na formação do próximo governo", porque "a comunidade internacional não apoiará um governo que não atinja a maioria", afirmou o professor de Ciência Política Nexhmedin Spahiu.

Em uma declaração conjunta, americanos e europeus instaram os futuros governantes a "retomarem urgentemente as discussões com a Sérvia".

Os ocidentais criticaram fortemente a decisão de Ramush Haradinaj de impor tarifas de 100% sobre as importações da Sérvia, e Belgrado exigiu que Pristina as levantasse para retomar as negociações, em ponto morto há quase dois anos.

Com exceção de Haradinaj, os principais candidatos parecem dispostos a renunciar às tarifas e o líder do PDK, Kadri Veseli, disse que agirá como os Estados Unidos.

Vjosa Osmani e Albin Kurti também afirmaram querer retomar os diálogos.

Outra das questões espinhosas com as quais o próximo executivo terá que lidar será a organização institucional dos setores ondem vivem os sérvios do Kosovo, cerca de 40.000 no norte e 80.000 em uma dúzia de enclaves, e que esse domingo devem escolher dez deputados.

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