O presidente peruano, Martín Vizcarra, estava procurando novos ministros na quarta-feira para reorganizar seu gabinete, depois de dissolver o Congresso e antecipar as eleições legislativas, fortalecido pela renúncia de sua vice-presidente e rival Mercedes Aráoz.
À frente do novo gabinete de 19 membros, Vizcarra nomeou Vicente Zevallos, que era da Justiça, substituindo Salvador del Solar e provavelmente confirmará vários de seus ex-ministros em seus cargos.
Del Solar e os outros membros do gabinete tiveram que renunciar na segunda-feira, depois que o Congresso negou um voto de confiança ao governo vinculado a uma reforma no Tribunal Constitucional. Após a recusa, Vizcarra fechou o Legislativo, controlado pela oposição, e convocou eleições para renová-lo.
Zevallos realizou reuniões com potenciais candidatos aos cargos, mas se recusou a revelar seus nomes. Ele disse apenas que o novo gabinete será anunciado na quinta-feira.
"Amanhã (quinta-feira) será divulgado, estamos em plena avaliação" dos candidatos, disse à rádio RPP.
- Decisão questionável -
Além da esfera política, a crise não gerou caos ou tensões, e todas as atividades ocorrem normalmente no país, desde aulas nas escolas até visitas turísticas.
Apesar da normalidade, dissolver o Congresso não é comum e desperta suspeitas.
"A crise política e o choque institucional no Peru vinham se formando há muito tempo. Embora a decisão de Vizcarra fosse questionável, ele provavelmente tinha poucas opções", disse Michael Shifter, presidente do Centro Interamericano de Estudos de Diálogo, com sede em Washington.
"Ou o Congresso tentaria tirá-lo dos tribunais ou ele se movimentaria primeiro e dissolveria o Congresso", disse Shifter.
Em um país com instituições fracas, o horizonte permanecerá conflitivo, estima o analista, pelo menos até as eleições de janeiro.
- Novo presidente interino? -
Embora o Congresso tenha sido dissolvido na segunda-feira, sua Comissão Permanente, composta por 27 membros, permanece no cargo, incluindo 18 'fujimoristas'.
A Comissão é presidida pelo chefe do Legislativo, o opositor Pedro Olaechea, mas tem poderes restritos.
A Constituição apenas o habilita a ratificar a nomeação de alguns funcionários e aprovar créditos, entre outras tarefas, mas não a lidar com reformas constitucionais ou fazer moções contra o governo.
Depois de ser dissolvido na segunda-feira, o Congresso aprovou a suspensão de Vizcarra e nomeou a vice-presidente Aráoz como "presidente interina", que foi imediatamente empossada por Olaechea.
No entanto, no dia seguinte, ela abandonou os dois cargos. Olaechea convocou uma sessão para a tarde de quarta-feira, em meio a rumores de que os oponentes poderiam tentar nomear um novo "presidente encarregado" após a renúncia de Araoz. "Estamos em um estado de acefalia", disse Olaechea a repórteres.
O opositor Jorge del Castillo advertiu que o novo gabinete deverá receber o aval da Comissão, que eventualmente pode se negar a isso, prolongando a incerteza no país.
"O que acontecerá se a Comissão não conceder a posse quando daqui a 30 dias? Será dissolvida?", questionou Del Castillo, do partido social-democrata da APRA, do ex-presidente Alan García.
Em caso de recusa, Vizcarra seria obrigado a nomear um novo gabinete, disse. Se isso acontecesse, um novo capítulo seria aberto nessa história de confrontos entre Executivo e Legislativo iniciada há três anos.
- Sem reeleição -
Vizcarra convocou novas eleições parlamentares em 26 de janeiro de 2020, o que forçará os partidos a encará-las em um contexto marcado por descrédito.
Os partidos de esquerda Novo Peru e Frente Ampla, minorias no atual Congresso, saem melhor posicionados, segundo analistas.
"Os partidos políticos terão que avaliar como participam, mas o que pode acontecer nas eleições é que o Peru se incline para os grupos de esquerda, que são os que apoiam a dissolução do Congresso", disse à AFP o analista Fernando Rospigliosi.
Os 24 partidos legais do país podem participar das eleições. Mas nenhum legislador pode ir à reeleição, em razão de uma reforma proposta por Vizcarra e ratificada em referendo em dezembro de 2018.
O presidente, que não tem partido nem bancada legislativa, deve sua popularidade à sua cruzada contra a corrupção em um país onde os quatro presidentes anteriores estavam sob a lupa da acusação de receber presentes da construtora brasileira Odebrecht.