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Estado de Minas

Cuba, uma ilha 'non grata' para os bancos estrangeiros


postado em 30/09/2019 17:55

O banco com o qual a ONG suíça MediCuba opera em Havana não fará mais transferências para a ilha socialista, porque teme sanções do governo americano de Donald Trump - uma preocupação que se espalha pelo setor financeiro internacional na hora de trabalhar com Cuba.

"Não sabemos o que fazer", queixa-se Luisa Sánchez, coordenadora do MediCuba. Desde 1992, eles apoiam a ilha em projetos de tratamento do HIV, controle do câncer, pediatria e atenção a idosos.

"Em 27 de agosto, nosso conselheiro (bancário) ligou para nosso contador para comunicar que em 1 de setembro não haveria mais transferências para Cuba", explica. Seu banco, o PostFinance, foi um dos últimos na Suíça a aceitar as transações.

Contactada pela AFP, esta filial do Swiss Post confirmou a ruptura de qualquer vínculo com Cuba "devido às sanções dos Estados Unidos".

"O PostFinance não está sujeito às leis americanas, mas participa de transações de pagamento globais e, portanto, depende de uma rede de bancos correspondentes e do acesso a operações em dólares", explicou.

O caso do MediCuba não é único. Depoimentos de cubanos repatriados e de empresas que trabalha na ilha ou com ela se multiplicam: fechamento de contas bancárias, fim de formas de pagamentos e restrições sobre as transferências.

Alguns buscam outro banco com urgência, frequentemente instituições privadas que cobram comissões elevadas, outros mentem sobre sua residência para abrir uma conta em outro lugar, e ainda há quem transfira fundos por vias alternativas, como o Western Union ou na mala de um amigo viajante.

- Prudência excessiva -

"Os bancos atravessam uma fase de 'overcompliance' (aplicação excessiva das regras) e isto afeta o mundo todo", garante um empresário europeu do turismo, instalado há décadas em Cuba, cujo banco lhe deu um prazo de 60 dias antes de fechar sua conta.

Sob anonimato, ele contou que uma transferência de um cliente que incluía no título a palavra "Cuba" ligou os alarmes em seu banco. Um advogado lhe explicou que nenhuma instituição bancária pode ser forçada a reter um cliente. Vários colegas passaram pelo mesmo.

O nervosismo dos bancos não é novidade: desde 1962, os EUA aplicam um embargo contra Cuba que proíbe a ilha de fazer transações em dólares.

E as multas por violar embargos americanos (não apenas contra Cuba, mas também contra o Irã, a Líbia e o Sudão, entre outros) são altas: 1,3 bilhão de dólares para o italiano UniCredit e 947 milhões para o britânico Standard Chartered, ambas impostas em abril; 1,34 bilhão para a Société Générale em 2018 e 8,9 bilhões (cifra recorde) para o BNP Paribas em 2014.

Com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, Washington intensificou as sanções contra a ilha, acusando-a de apoiar militarmente a Venezuela de Nicolás Maduro.

Desde maio, os títulos 3 e 4 da lei Helms-Burton ameaçam processar e proibir viagens aos Estados Unidos qualquer pessoa que fizer negócios com bens confiscados pela revolução de 1959.

A vaga definição do delito permite uma interpretação ampla: a Société Générale é processada em Miami pelos herdeiros de um banco cubano integrado ao atual Banco Nacional de Cuba, com o qual a instituição financeira francesa realizou operações bancárias.

- Sem driblar o dólar -

"Noventa e nove porcento dos bancos têm interesses americanos", destaca Dominique Hector, advogado francês que assessora empresas estrangeiras em Cuba e no Panamá.

Ele alerta que, embora não estejam presentes na ilha, "no sistema bancário, sempre há um passo obrigado pelos Estados Unidos" mediante o uso do dólar, a moeda de referência.

"Tenho vários clientes que tiveram suas contas fechadas", enquanto outros "nunca puderam receber seus pagamentos porque seu banco francês se negou a processá-los", acrescenta Hector.

Segundo o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, desde que Trump chegou ao poder, "dezenas de bancos estrangeiros limitaram ou interromperam seus vínculos financeiros" com Cuba, entre eles o panamenho Multibank, que fechou a sede em Havana e as contas das empresas que trabalham com a ilha do Panamá.

Para Cuba, que depende do investimento estrangeiro para impulsionar seu crescimento, este pânico bancário é uma má notícia. Seu governo estima que as dificuldades que enfrentou com 140 bancos durante o último ano custaram 725,8 milhões de dólares ao país.


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